Embora a arte clássica da Idade de Ouro da Grécia Antiga, particularmente no que se refere à cidade-Estado de Atenas, pareça, aos olhos contemporâneos, resplandecer na mais sublime glória, a arte helenística é, na verdade, extremamente rica, variada e dramaticamente humanista.
O período identificado pelos historiadores para marcar o início da arte do período helenística começa com a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. e perdura até por volta do ano 31 a.C. Algumas das esculturas mais preciosas do mundo, como a Vênus de Milo e a Vitória de Samotrácia, datam desta época.
O contato com culturas distantes
Entre 334 e 323 a.C., os exércitos de Alexandre conquistaram grande parte do mundo conhecido, criando um império que se estendia da Grécia e da Ásia Menor, passando pelo Egito e pelos territórios persas no Oriente Médio até chegar à Índia.
Esse contato com distantes culturas – absolutamente sem precedentes na história pregressa – contribuiu significativamente para disseminar a cultura grega e a arte helenística, expondo os estilos tradicionais a uma série de novas e exóticas influências.
A divisão do império alexandrino
Os generais de Alexandre, conhecidos como “diádocos” (termo grego que pode ser traduzido por “sucessores”), dividiram os extensos territórios imperiais, formando reinos próprios. Desse modo, novas dinastias helenísticas surgiram, como os selêucidas no Oriente Médio, os ptolomeus no Egito e os antigônidas na Macedônia – terra natal de Alexandre.
No entanto, algumas cidades-Estados gregas afirmaram sua independência por meio de alianças. A mais importante delas, envolvendo diversas cidades-Estados, foi a Liga Etólia, no centro-oeste da Grécia, e a Liga Aqueia, baseada no Peloponeso.
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Uma nova divisão
Durante a primeira metade do terceiro século a.C., os reinos menores se separaram do vasto império selêucida e estabeleceram sua independência. O norte e a região central da Ásia Menor foram divididos nos reinos da Bitínia, Galácia, Paflagônia, Ponto e Capadócia.
Cada um desses novos Estados foi governado por uma dinastia local remanescente do antigo Império Persa Aquemênida, mas profundamente influenciada pelos elementos culturais de origem grega.
A dinastia atálida, família real da grande cidade-Estado de Pérgamo, reinou em grande parte do oeste da Ásia Menor, enquanto uma influente dinastia de ascendência grega e macedônica dominou um largo território que se estendia da Báctria ao Extremo Oriente.
Neste mundo grego imensamente expandido, a cultura e a arte helenística surgiram e floresceram.
A integração econômica, comercial e cultural do mundo grego
A hegemonia helenística permaneceu sendo a forma política dominante no Oriente grego por quase três séculos após a morte de Alexandre, o Grande. Famílias reais viviam em palácios esplendidos, com elaborados salões para banquetes, além de quartos e jardins suntuosamente decorados.
Festivais, cortejos e simpósios realizados nos palácios reais proporcionavam ocasiões para luxuosas exibições de opulência. Os reis helenísticos tornaram-se proeminentes patronos das artes, comissionando obras públicas de arquitetura e escultura, bem como itens de luxo privados que demonstravam sua riqueza e bom gosto.
A joalharia, por exemplo, assumiu novas e elaboradas formas, incorporando pedras raras e únicas, uma vez que gemas preciosas e semipreciosas estavam disponíveis por meio de rotas comerciais recém-estabelecidas.
Simultaneamente, o aumento do intercâmbio comercial e cultural e a maior mobilidade de ourives e artífices de metais preciosos levaram ao estabelecimento de uma “Koiné” (linguagem comum) em todo o mundo helenístico.
A diversificação da arte helenística
A arte helenística é ricamente diversificada, tanto nos temas quanto em seu desenvolvimento estético. Tendo sido criada durante uma época caracterizada por um forte senso de historicidade, pela primeira vez uma grande civilização se empenhou em construir museus e bibliotecas, como as de Alexandria e Pérgamo.
Seus artistas copiaram e adaptaram estilos anteriores e, além disso, produziram grandes inovações. As representações das divindades gregas assumiram novas formas. A popular imagem de uma Afrodite nua, por exemplo, reflete a crescente secularização da religiosidade tradicional.
As representações de Dionísio, deus do vinho e lendário conquistador do Oriente, também foram muito proeminentes na arte helenística, bem como as de Hermes, o deus do comércio.
Em representações surpreendentemente belas e ternas, Eros, a personificação grega do amor, é retratada como uma criança.
A disseminação da arte helenística
Um dos resultados imediatos desse novo ambiente cultural e amplamente cosmopolita foi o amplo espectro de temas que tinham poucos (ou nenhum) precedentes nas artes gregas. Há representações de indivíduos com estética não ortodoxa, tais como seres grotescos e gigantes, e convencional, como crianças e idosos.
Essas imagens, assim como os retratos de estrangeiros de diferentes etnias, especialmente africana, descrevem uma população helenística diversa. Um número crescente de colecionadores de arte passou a encomendar obras originais e réplicas de estátuas que, à época, já eram tidas como “clássicas”.
Da mesma forma, compradores cada vez mais abastados mostravam-se ansiosos para embelezar suas residências e jardins com bens de luxo, como estatuetas de bronze, móveis esculpidos com ornamentos artísticos, esculturas em pedra e cerâmicas elaboradas com decorações feitas a partir de moldes inovadores.
Durante a hegemonia da arte helenística, esses e outros itens luxuosos passaram a ser produzidos e comercializados em uma escala nunca vista.
O humanismo e a religiosidade na arte helenística
Os temas religiosos eram muito importantes para os artistas helenísticos, embora toda uma nova gama de assuntos estava aberta a eles. Pessoas de todas as idades e, sobretudo, os povos recém-introduzidos ao mundo grego, tornaram-se temas favoritos da arte helenística.
Além disso, em vez da beleza, os artistas esforçavam-se em transmitir emoções humanas através de suas obras, alterando constantemente seus estilos e dando muita atenção aos detalhes, a fim de reproduzir, da melhor forma possível, a estética presente no mundo natural.
Especialmente na escultura, os artistas almejavam criar obras que pudessem ser admiradas por todos os ângulos e perspectivas, como a estatueta de bronze da Dançarina Velada e Mascarada (criada entre o terceiro e o segundo séculos a.C.).
A arte helenística conquista o Império Romano
Os romanos foram os mais ávidos colecionadores da arte helenística. Eles decoravam suas mansões e casas de campo com esculturas gregas, de acordo com seus interesses e gostos.
Os murais de Boscoreale, alguns dos quais refletem claramente a perda das reais pinturas helenísticas da Macedônia, e as requintadas peças de bronze presentes na coleção do Met (Museu Metropolitano de Nova York, E.U.A.), testemunham o refinado ambiente clássico que a aristocracia romana cultivava em suas casas.
Vale lembrar, por fim, que no século I a.C., Roma era um centro de produção de arte helenística, atraindo numerosos artistas gregos que vinham para produzir e viver no coração do novo Império.