O conceito de arte islâmica não se limita à descrição de manifestações exclusivamente ligadas à fé dos povos muçulmanos (como uma mesquita e seus móveis), abrangendo, também, as obras historicamente produzidas nos territórios governados por muçulmanos, elaboradas para clientes islâmicos ou criadas por artistas islâmicos.
O Islã, mais do que somente uma religião é, sobretudo, um modo de vida que, ao longo do tempo, desenvolveu uma cultura específica e um estilo próprio.
Pensando nisso, apresentamos, neste artigo, um pouco da história da arte islâmica, bem como suas principais características e alguns célebres exemplos. Boa leitura!
Um pouco de história
A partir da fundação da religião islâmica (ou muçulmana) por Maomé (século VII), grande parte das populações que residiam na Ásia Menor, na Pérsia e na Península Arábica (e, posteriormente, no Norte da África) se uniu em torno à nova religião. A língua árabe se tornou sagrada e rica fonte de incontáveis manifestações artísticas.
A arquitetura foi uma das primeiras expressões da arte islâmica, florescendo, principalmente, mediante a construção de templos (mesquitas) com suntuosas decorações interiores, presentes nos arabescos (desenhos que buscam retratar a harmonia das formas geométricas) e na caligrafia que reproduzia trechos do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos.
Sem embargo, a mais contundente expressão da arte islâmica se deu em duas importantes ramificações: a otomana e a safávida.
Os safávidas, liderados por Ismail, conquistaram o domínio da Pérsia em 1501. Com o passar do tempo, este império expandiu-se rumo ao norte, chegando ao sul da Península Arábica (Afeganistão) e ao leste (Paquistão).
O Império Safávida deixou uma extensa produção artística, com pinturas que representavam figuras humanas (algo inexistente nos demais estilos de arte islâmica) e uma formidável tapeçaria, com inscrições caligráficas e arabescos.
O estilo otomano, hegemônico no Norte da África, no Leste Europeu e na Ásia Central, articulou o legado árabe com influências de Veneza, Bizâncio e dos Bálcãs.
Principais características da arte islâmica
A arte islâmica é fundamentalmente contemplativa, visando expressar, sobretudo, um encontro com a divindade. Para compreendermos sua essência, é necessário entender as diversas concepções de arte.
Desde uma perspectiva europeia, o critério subjacente à cultura artística encontra-se em seu poder de representar o mundo natural e retratar os seres humanos.
Para os islâmicos, por outro lado, o âmago da arte não consiste na descrição ou imitação da natureza (uma vez que o trabalho humano nunca poderá se comparar ao de Alá), mas à formação de ambientes propriamente humanos.
Isso significa que a arte deve se colocar a tarefa de conferir aos objetos criados pela engenhosidade humana (tapetes, roupas, recipientes, fontes artificiais, residências etc) a perfeição que cada um deles pode alcançar segundo sua própria natureza.
Dessa forma, a arte islâmica tampouco se preocupa em acrescentar elementos estranhos aos objetos que molda, limitando-se a fazer vir à tona suas qualidades mais essenciais.
Desafiando a noção segundo a qual as obras artísticas do passado devem ser estudadas enquanto “fenômenos” históricos, a arte islâmica almeja, de modo geral, dotar suas criações de um sentido de permanência ou atemporalidade.
Esses princípios estão presentes em construções clássicas como as grandes mesquitas de Ishafan, Damasco, Cairo, Córdoba, Kairouan e nos exemplos que abordamos a seguir.
Alguns exemplos famosos da arte islâmica
Entre os principais exemplos da arte islâmica, destacam-se a arquitetura, os tapetes e as pinturas (todos repletos de características próprias de uma civilização que conquistou boa parte do mundo).
Arquitetura
Em meados do século X, a exploração artística de simetria e padrões floresceu largamente na civilização islâmica.
Ao longo de quatro séculos, os artistas mantiveram um ritmo de intensa criatividade, resultando em padrões geométricos altamente sofisticados e monumentos sublimes, como o Taj Mahal na Índia e o complexo palaciano de Alhambra, os palácios Nasrid.
Taj Mahal
Muitos historiadores modernos consideram que a beleza e complexidade arquitetônica do Taj Mahal nunca encontraram rival. Trata-se do mais importante monumento erguido pelos Mongóis, governantes islâmicos da Índia.
O Taj Mahal é um mausoléu destinado a abrigar o sepulcro da rainha mongol Muntaz Mahal. Construído totalmente em mármore branco, o Taj é ainda mais lindo durante os períodos do amanhecer e do pôr do sol, além de parecer brilhar, à noite, sob a luz da lua.
Palácios Nasrid
Os palácios Nasrid, que ficam na cidade espanhola de Alhambra, são ricamente decorados com madeiras e pedras esculpidas, além de belíssimos azulejos em pisos, paredes e tetos.
Alhambra é uma cidade totalmente murada e utilizada como fortaleza durante a conquista islâmica da Península Ibérica (atualmente, os países de Portugal e Espanha).
Tapetes
Os tecidos e tapetes sempre tiveram um papel destacado na religião e cultura islâmica. Enquanto eram povos nômades, estes eram os únicos elementos presentes na decoração de suas tendas.
Ao se tornarem sedentários, os tapetes, brocados e sedas passaram a ser empregados na decoração de castelos e palácios, cumprindo uma função essencial nas mesquitas, pois os muçulmanos, ao orarem, não podem entrar em contato direto com a terra.
Os tapetes fabricados em todo o período anterior ao século XVI são considerados “arcaicos”, possuindo tramas que chegam aos 80 mil nós por metro, sendo que os originários da Pérsia são considerados os mais belos e valiosos de todos.
Pinturas
As pinturas islâmicas são representadas por miniaturas e afrescos. Destes, poucos chegaram bem conservados até os nossos dias.
Os afrescos eram geralmente usados na decoração de paredes de edifícios públicos e palácios, representando cenas de caçadas e da vida ordinária na corte. O estilo se assemelhava bastante ao da pintura grega, embora, dependendo da região, pudesse sofrer influência de outras culturas como a bizantina, a indiana e, até mesmo, a chinesa.
Diferentemente do que sucedeu no ocidente cristão, as miniaturas não foram empregadas na ilustração de livros religiosos. Os muçulmanos acostumaram-se a usá-las para ilustrar publicações científicas (no intuito de deixar os textos mais claros) e literárias (como acompanhamento das narrativas).
As pinturas de arte islâmica, de modo geral, preconizavam um estilo um tanto esquematizado e estático, com fundos dourados e sem perspectivas. Muitas edições do Alcorão, por exemplo, foram ilustradas com figuras geométricas de grande precisão, visando denotar a organização dos textos.