Para as nações do Extremo Oriente, o bonsai, as paisagens em miniatura e o Ikebana (a arte japonesa dos arranjos florais) se materializam, de forma original, uma certa compreensão do mundo.
Contribuem para a construção de uma arte de viver que se baseia no sentimento de alegria perante as coisas simples e experimentar o prazer estético sob o encanto de momentos aparentemente comuns.
Trata-se, em suma, de um caminho que conduz à descoberta de novos aspectos da beleza, cuja expressão lacônica permite o surgimento de uma fantasia capaz de superar as barreiras de espaços estreitamente limitados pelo pensamento convencional.
As cores, as formas e as impressões perceptíveis da natureza determinam os “exercícios do belo”, cujas frases criativas são tão importantes quanto o resultado final de cada obra.
O desequilíbrio, a assimetria, a simplicidade, a sutileza, uma certa carência e uma série de ideias afins constituem as principais características das expressões culturais e, consequentemente, da arte japonesa – elementos que trazemos até você ao longo deste artigo. Boa leitura!
O método de ensino
O ensino de todas as expressões artísticas japonesas é baseado na imitação e na repetição. O professor ensina pelo exemplo, mostrando as técnicas aos alunos que, por sua vez, tentam imitá-las. De tempos em tempos o mestre faz uma pequena dissertação e, durante a aula, corrige a forma de trabalhar.
O professor é apenas o guia que indica o caminho, pois cada pessoa deve trilhar sua própria jornada. A constante repetição das técnicas é essencial para que o aprendiz adquira as habilidades necessárias para a prática da arte escolhida.
Entretanto, quando a perfeição técnica for alcançada, o artista deve se esforçar por se desprender dela, de modo a permitir que a obra de arte suja espontaneamente.
O criador deve executar sua obra sem manter contato com o pensamento consciente, a fim de que suas mãos se movam com o ritmo que marca seu espírito, à mercê de sua inspiração.
O artista japonês deve viver em constante comunhão com a natureza, identificando-se com ela e menosprezando a perfeição das formas artificiais. Curiosamente, porém, esse “culto à imperfeição” rende frutos que podem ser qualificados, sem nenhum exagero, de “perfeitos”, uma vez que os planos de fundos sempre estão em plena harmonia.
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A simplicidade
A arte japonesa utiliza um mínimo de linhas para representar o que o artista deseja expressar. Com uma simplicidade transbordante de riqueza, resultado de um extenso aprendizado de disciplina e rejeição a tudo o que é baixo e efêmero.
Sentimentos íntimos são expressos com parcimônia. Por exemplo, um pássaro empoleirado em um galho seco é o suficiente para expressar a solidão que o inverno engendra.
Enquanto os artistas ocidentais se dirigem à inteligência e às emoções do espectador, a arte japonesa apela à sua intuição e sensibilidade.
A assimetria
A predileção pela assimetria é um dos princípios elementares da arte japonesa. Segundo essas normas estéticas, a simetria é uma invenção humana e se contradiz com a natureza, para a qual, nada é regular. Para compreender essa simples verdade, basta olhar para uma montanha, para as pedras erodidas pelo vento ou pela água, para as árvores.
Por tais motivos, a assimetria é totalmente natural e dá às obras de arte japonesa uma surpreendente diversidade surpreendente, original e moderna. Do ponto de vista ocidental, a assimetria pode parecer um defeito, pois a simetria nos inspira ideias de graça e solenidade.
Para os artistas japoneses, uma linha quebrada ou uma curva irregular são magnânimas em sua natural imperfeição.
Eles sabem encontrar e expressar a beleza em coisas aparentemente feias e imperfeitas e muitos consideram que a perfeição pode ser sublinhada por uma imperfeição fortuita, a fim de lembrar que é o trabalho de um ser humano, e não a consequência de um processo mecânico.
O desapego
Desprezar a riqueza material, não depender das coisas terrenas e, ao mesmo tempo, encontrar valor em algo além das posições sociais é a essência do wabi-sabi, o culto ao desapego. No plano intelectual, a profusão de palavras e o brilho pessoal são evitados.
Os grandes artistas devem ser pessoas modestas e conscientes de sua própria humilde condição diante da imensidão do universo.
A sutileza
Na arte japonesa, tudo é sugerido e nada é explicado teoricamente. O mestre ensina de modo sutil, demonstrando que sabe fazer o que ensina para que os aprendizes possam imitá-lo. Eles sabem que, ao imitar o professor, descobrirão por si mesmos o que precisa ser apreendido.
A liberdade absoluta
O artista não permite que nada se interponha entre o que deseja expressar e a construção de sua obra. O Satori, iluminação, é o princípio que guia as mãos e a mente dos artistas, permitindo a libertação absoluta.
A espontaneidade
Assim que o domínio das técnicas necessárias para executar a arte escolhida tenha sido adquirido, o artista japonês não deve ser escravo dela, pois isso limitaria a sua criatividade.
O indivíduo deve se livrar das fórmulas engessadas e encontrar, em seu ser, a inspiração criativa. Caso se limite à técnica, o resultado de seu trabalho, ainda que perfeito, careceria de vida: a missão de um artista não é copiar o que vê, mas recriá-lo, conferindo às suas obras um sopro de vida.
O vazio
Na arte japonesa, a relação entre forma e espaço deve ser sugerida de tal que seja possível captar sua necessidade recíproca, isto é, perceber o vazio como uma forma e a forma como um vazio.
É fundamentam saber localizar o vazio em lugares sobrecarregados, pois, tudo aquilo que não é revelado tende a ser mais atraente do que as coisas que são explícitas. Portanto, é possível incitar o observador a refletir, levando-o a penetrar na superfície das coisas para participar do ato artístico.
Ao contemplar uma grande obra de arte japonesa pode acontecer que, à primeira vista, apenas uma dessas características seja imediatamente percebida. Sem embargo, a compreensão dos elementos inerentes à cultura e visão de mundo nipônica pode fazer com que, até mesmo os olhos menos “treinados”, percebam a magnitude e grandiosidade ocultas em trabalhos da mais sublime simplicidade.