Di Cavalcanti: história, obras e contribuições

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, ou simplesmente Di Cavalcanti, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 06 de setembro de 1897 e foi um dos maiores artistas brasileiros: pintor, caricaturista, ilustrador, muralista, desenhista, gravador, jornalista, cenógrafo e escritor.

Di Cavalcanti nasceu na casa do abolicionista José Carlos do Patrocínio que havia se casado com sua tia materna Maria Henriqueta de Senna. Na infância, Di Cavalcanti recebeu a influência de artistas que frequentavam a casa como Olavo Bilac, Joaquim Nabuco e Machado de Assis, entre tantos outros.

Ainda bem jovem, aos 11 anos, recebeu aulas do pintor e paisagista acadêmico de formação, Gaspar Puga Garcia. Com a morte de seu pai em 1914, o artista começou a fazer ilustrações para a Revista Fon-Fon.

Formação acadêmica

Di Cavalcanti, em 1916, ingressou para a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, porém, no mesmo ano foi para São Paulo onde estudou na Faculdade de Direito na Largo São Francisco. Ao mesmo tempo em que estudava, o artista frequentava o ateliê de Georg Elpons, passando a conviver com intelectuais e artista paulistanos como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, entre outros.

Em 1917, o artista realizou a sua primeira exposição individual de caricatura na Livraria O Livro, na cidade de São Paulo. No ano de 1921, Di Cavalcanti publicou o álbum “Fantoches da Meia-Noite”, editado por Monteiro Lobado, no qual enfocava o universo boêmio e os frequentadores da noite: os bêbados, as prostitutas e os vigias.

A ilustração apontava uma grande influência de Aubrey Vincent Beardsley, ilustrador inglês, que tinha como característica a linha leve, alongada e sinuosa, bem como o uso de elementos decorativos, bem ao estilo art-nouveau. Nesse mesmo ano, a artista ilustrou a “A Balada do Enforcado”, de Oscar Wilde.

Di Cavalcanti abandonou o curso de Direito em 1922 e passou a exercer a atividade de ilustrador de livros.

Semana de Arte Moderna

Di Cavalcanti foi o idealizador, bem como o principal organizador, da Semana de Arte Moderna de 1922, também conhecida como Semana de 22, onde expôs 12 de suas obras.

Outras artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade, Graça Aranha, Oswald de Andrade, entre muitos, também participaram da Semana de 22, que foi um grande movimento cultural e que originou o Movimento Modernista no Brasil.

Viagem ao exterior

Di Cavalcanti fez sua primeira viagem ao exterior no ano de 1923, onde se instalou em Paris e atuou como correspondente no jornal “Correio da Manhã”. O artista, sempre muito ligado às artes gráficas, passou a frequentar a Academia de Paul-Élie Ranson, pintor pós-impressionista nascido na França ligado aos “Simbolistas”, e fundador do “Movimento Nabis”, onde estudou a simplificação do desenho e da cor.

Ao frequentar a Academia, Di Cavalcante acabou por conhecer as vanguardas europeias através das obras de artistas e escritores como Pablo Picasso, Henri Matisse, Georges Braque, Fernand Léger, Blaise Cendrars, Jean Cocteau, entre outros, e que, posteriormente, serviram para que criasse a sua própria identidade.

De volta ao Brasil

Em 1926, Di Cavalcanti retornou a São Paulo e passou a trabalhar no jornal “Diário da Noite”, como jornalista e ilustrador. Com as influências das vanguardas europeias aliada com sua própria identidade, o artista adotou uma postura nacionalista e manifestou a preocupação com a questão social, aliando-se, no ano de 1928, ao Partido Comunista do Brasil (PCB).

No ano de 1931, Di Cavalcanti participou do Salão Revolucionário e, em 1932, juntamente com Carlos Prado, Antônio Gomide e Flávio de Carvalho, fundou em São Paulo o “Clube dos Artistas Modernos” (CAM).

Em 1933, publicou uma sátira ao militarismo da época, o álbum “A Realidade Brasileira”.

De volta à Europa

Em 1935, Di Cavalcanti, mesmo participando de exposições coletivas em salões nacionais e internacionais, era alvo de sucessivas prisões de caráter político e retornou à Europa onde trabalhou na rádio “Diffusion Française”, nas transmissões Paris Mondial.

De volta ao Brasil

Di Cavalcanti permaneceu na Europa por cinco anos e, em 1940, retornou ao Brasil, se instalando em São Paulo e passando a trabalhar como ilustrador, além de publicar poemas com suas memórias de viagens.

Em 1948, Di Cavalcanti, defensor da arte figurativa, fez uma conferência no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), “Mitos do Modernismo” e publicada na “Revista Fundamentos”, com o título “Realismo e Abstracionismo”, onde se posicionou favorável a uma arte nacional e contrário à arte abstrata, que se expandia no país.

Entre a década de 50/60, Di Cavalcanti foi convidado e participou da I Bienal de São Paulo, no ano de 1951. Também foi convidado a participar da II Bienal de São Paulo, onde recebeu o prêmio de melhor pintor brasileiro, prêmio dividido com Alfredo Volpi.

Di Cavalcanti realizou várias exposições no Rio de Janeiro, Veneza, Montevidéu e Trieste. Foi homenageado com uma Sala Especial da Bienal Interamericana do México, onde recebeu uma Medalha de Ouro.

Di Cavalcanti faleceu em 26 de outubro de 1976, no Rio de Janeiro. Logo após a sua morte, o artista foi homenageado pela Prefeitura da Cidade de São Paulo com a criação da Rua Emiliano Di Cavalcanti, na Vila Regente Feijó, no Grajaú.

Conheça algumas de suas principais obras onde as mulheres foram as figuras mais representadas em seus desenhos e pinturas, retratando a realidade social:

  • Pierrete, 1924;
  • Pierrot, 1924;
  • Samba, 1925;
  • Mangue, 1929;
  • Cinco Moças de Guaratinguetá, 1930;
  • Mulheres com Frutas, 1932;
  • Família na Praia, 1935;
  • Nascimento de Vênus, 1938;
  • Ciganos, 1940;
  • Mulheres protestando, 1941;
  • Arlequins, 1943;
  • Gafieira, 1944;
  • Colonos, 1945;
  • Abigail, 1947;
  • Aldeia de Pescadores, 1950;
  • Nu e Figuras, 1950;
  • Retrato de Beryl, 1955;
  • Tempos Modernos, 1961;
  • Tempestade, 1962;
  • 1962;
  • Retrato de Marina Montini, década de 60;
  • Duas Mulatas, 1964;
  • Músicos, 1963;
  • Retrato de ivette, 1963;
  • Rio de Janeiro Noturno, 1963;
  • Mulatas e pombas, 1966;
  • Carnaval, 1967;
  • Mulheres Facetadas, 1968;
  • Duas Mulheres, 1972;
  • Baile Popular, 1972.

“A arte brasileira depende da realidade brasileira e é ao mesmo tempo reveladora dessa realidade. Por isso, a nossa expressão é em grande parte lírica. Como pode o Brasil ter uma arte trágica e grandiosa sem que se faça a revolução social?”.

Di Cavalcanti