Sem dúvida, fazer uma historiografia da arte não é uma tarefa simples. Quando se inicia um movimento artístico? O que pode ser classificado como arte? Quais fontes confiar para escrever a história?
Essas são velhas questões que o trabalho da documentação histórica lida desde sempre e suas respostas não são definitivas.
Em alguns casos, o trabalho fica facilitado quando se há a promoção intencional de um movimento erigido seguindo normas racionalmente desenvolvidas, contando com publicidade massiva e marcando toda uma geração.
Mas quando a produção artística de um determinado período não é realizada sob a égide de princípios norteadores, mas apenas da percepção individualista de atores independentes sobre a realidade que os cerca e dos universos que fervilham dentro de si mesmos?
E quando essas produções, mesmo não desenvolvidas de forma orgânica, isto é, mesmo não constituindo o mosaico de uma mesma filosofia ou pensamento acabam se manifestando como tal em razão de seus ourives estarem influenciados pelo chamado “espírito do tempo”?
Como classificar essas obras e inseri-las dentro de uma narrativa que faça sentido do ponto de vista histórico?
Talvez essas questões levantadas sejam de difícil compreensão neste momento. Por isso, vale começar a explicar o significado e importância da historiografia da arte por partes, em especial sobre o significado de seu primeiro termo.
O que é historiografia?
Essa palavra é composta pelos termos “História”, do grego, “pesquisa”, e “Grafia”, do grego, “escrita”. Portanto, seu significado é “escrita de uma pesquisa”.
Ou seja, após se fazer uma pesquisa longa e minuciosa sobre determinado assunto, ter identificado os principais fatos, ter adotado critérios para definir o que é verídico ou não, o que é importante ou não, é necessário produzir uma escrita dessa pesquisa. Uma narrativa coesa que tenha início, meio e fim.
Contudo, nem toda historiografia que se apresenta como tal pode ser tratada como legítima. É necessário analisar, por exemplo, qual foi a metodologia usada para a escolha de fontes, quais fontes foram usadas, quem fez e escreveu o conteúdo, qual a sua relação, envolvimento, com os períodos retratados e também as suas intenções em fazer esse trabalho.
Lembre-se: uma historiografia é uma narrativa, que pode até apresentar uma lógica interna, mas ser falha, fantasiosa ou tendenciosa.
Por exemplo, era comum na antiguidade se atribuir a realização de fenômenos naturais a divindades mitológicas.
Os escribas dessa época registravam os acontecimentos, ou desenvolviam uma narrativa, incluindo muitos dos mitos difundidos em suas épocas na historiografia oficial.
Hoje, vivemos um fenômeno de autores tentando construir uma visão dos fatos, uma releitura de eventos passados e presentes que atendam seus dogmas, suas ideologias, negando fontes consideradas fidedignas pela maioria dos pesquisadores, do corpo acadêmico, e se fiando em outras sem valor histórico comprovado.
Análise da historiografia
Esse é um ponto importante: como determinar se um documento, uma fonte, um objeto tem valor histórico?
Por meio de pesquisa sobre épocas passadas e também estudo, análise das historiografias conhecidas.
Conforme estudos e descobertas amparadas pela exatidão científica, se avalia qual historiografia, ou seja, qual narrativa, se apresenta mais em conformidade com os fatos conhecidos há muito tempo ou descobertos recentemente.
O estudo da historiografia passa pela análise de sua metodologia de pesquisa empregada, as ferramentas de pesquisa utilizadas e sua ligação com os fatos à disposição.
Sobre a historiografia da arte
A historiografia da arte, portanto, trata-se de uma análise sobre o estudo da história da arte, as metodologias aplicadas, ferramentas utilizadas, pensamento predominante, objetivos, intenções, etc.
É uma análise da narrativa que se propõe a documentar, selecionar e dá sentido de unidade a toda uma produção artística, em suas mais diversas formas ou centrada específicamente em uma, desenvolvida ao longo da história ou por período determinado.
Quando se trata de um assunto que envolve questões subjetivas determinar certo e errado é sempre mais complicado. Geralmente busca-se uma análise que seja eficiente em explicar a evolução da arte ao longo do tempo e a importância, o impacto, que viera a causar em sua época.
Essa tentativa de encontrar um ponto de partida da produção artística, enquadrá-la dentro de uma narrativa que a explique e a retrate de forma eficiente até os dias atuais, dada a dificuldade de se alcançar tal objetivo com precisão inquestionável, passou e ainda tende a passar por diferentes sistemáticas, diferentes pontos de vistas, pensamentos e reflexões.
A historiografia da arte se propõe a analisar cada uma dessas sistemáticas e suas relações com a contemporaneidade e com épocas passadas.
Grandes nomes e metodologias da historiografia da arte
John Joachim Winckelmann é considerado o pai da historiografia da arte. Foi o primeiro a criar uma metodologia científica para fazer uma classificação de obras artísticas.
Desenvolveu uma teoria estética de influência neoplatônica, na qual avaliava a obra em seu princípio e execução, a ideia e a beleza da materialização dessa ideia.
Ele postulou uma escala evolutiva da arte dividida em três categorias:
- Arcaico;
- Clássico;
- Helenístico.
Wickelmann considerava que a arte elaborada na Grécia clássica se tratava da expressão definitiva do que é belo, perfeito, e que todas as obras posteriores não passariam de imitação do que considerava perfeito.
Essa interpretação da história da arte foi nominada como neoclassicismo.
A historiografia da arte no século XIX foi marcada pela influência do positivismo. Passou a adotar critérios mais práticos e rigorosos.
O movimento denominado romantismo trouxe uma interpretação mais revivalista e historicista sobre a historiografia da arte. Isto é, resgatou estilos que caíram em esquecimento em razão de neoclassicismo despontando na segunda metade do século XVIII.
Formalismo século XX
O formalismo foi à primeira historiografia da arte de relevância. Prega que o estilo é peça central para o estudo da arte.
Não leva em conta a biografia de seus autores e nem a aplicação de pensamentos filosóficos ou análise de filosofias embutidas nas obras.
O formalismo se vale do estudo psicológico e do método comparativo para definir os estilos das obras.
No século XX, viu-se o despontar de novos tipos de historiografia da arte. Umas de caráter mais sociológico, outras de cunho psicológico, individuais, sintetizadoras e simbolistas. Também deu continuidade a interpretação formalista.
Nota-se, portanto, mesmo nos dias atuais, interpretações diferentes sobre o mesmo tema, natural, pois como dito arte não é uma ciência exata.
Portanto, para adquirir uma visão ampla da história da arte é interessante e necessário ter conhecimento dos principais tipos de historiografia existentes que permanecem relevantes dentro do panorama atual de debate sobre o papel do fazer artístico e sua substância.
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