Molière foi o pseudônimo escolhido do artista que fez da comédia a sua principal arte.
Não é exagero dizer que o dramaturgo foi o pai da comédia francesa. Seu estilo era deliciosamente provocativo e seu olhar se voltava para o ridículo dos costumes de sua época, do cotidiano povoado por figuras afetadas e cheias de maneirismos.
Falsa ciência, hipocrisia e sentimentos nada edificantes como inveja, ciúme, ódio e cobiça eram os alvos prediletos de duas obras.
O dramaturgo é considerado de uma classe rara de artista.
Do tipo que consegue harmonizar em seus trabalhos ideais aparentemente contraditórios.
Ele seguia uma lógica pautada pelo racionalismo mais pós-cartesiano ao mesmo tempo em que tinha um espírito inquieto e crítico.
Esses extremos eram perceptíveis em sua moralidade.
Ao passo que encontrava guarita em alguns dogmas conservadores, era um defensor fervoroso da valorização da experiência humana que no seu entender está voltada para o futuro.
Entende-se que Molière é um precursor, ao menos ideologicamente, do que viria a ser a Revolução Francesa.
Saiba mais sobre esse grande dramaturgo nos próximos tópicos.
Poquelin para os íntimos
Molière não é o nome de batizo do artista que agitou a segunda metade do século XVII na França com o seu texto ácido e irreverente.
É um pseudônimo de Jean-Baptiste Poquelin, nascido em 15 de janeiro de 1622 na cidade de Paris. Veio a falecer na mesma cidade em 17 de fevereiro de 1673.
Formação privilegiada
Molière passou por adversidades ao longo da vida, fez muitos inimigos com a sua comédia mordaz e realista – e também amizades importantes, que o manteve a salvo de ações mais contundentes de seus críticos.
No entanto, a sua infância e juventude não deram motivos para muitas queixas e foram importantes para se tornar o artista revolucionário da comédia francesa.
Era filho de um bem sucedido mercador de tapetes e por isso pôde receber educação privilegiada.
Frequentou o Colégio de Clermont, pertencente aos jesuítas, e apesar de não se ter comprovação é muito possível que tenha se formado em Direito.
Em 1643 pôde se dedicar ao teatro se unindo a uma família de atores.
Com essa família, funda o grupo de teatro L’illustre Théâtre, que por dois anos se apresentou na Cidade Luz.
Fracasso total
É bem possível que Molière tenha colhido boas experiências, feitos boas amizades e adquirido bagagem para o grande ator e dramaturgo que viria a se tornar, mas a verdade é que em termos artísticos, sua primeira empreitada no mundo do teatro, do grupo como um todo, afim de justeza, foi um retumbante fracasso durante os dois anos que se manteve ativo na capital francesa.
A repercussão foi nula, o público, também, as dívidas se avolumaram e, para completar a fase de vacas magras, Molière acabou sendo preso, ainda que temporariamente.
Novos ares
Diante de seguidos insucessos, Molière e o grupo acharam por bem tentar melhor sorte em outros ares e passaram a fazer excursões pelas cidades interioranas da França.
Essas excursões teve tempo de vida bem mais extenso do que a primeira tentativa em Paris e sem dúvida mais frutífera em termos de resultados.
O grupo circulou pela França por 14 anos, representando peças clássicas e algumas curtas, escritas por Molière.
Em 1653, o grupo conseguiu um importante apoio, o de príncipe de Conti, que se tornou mecenas da companhia de teatro de 1653 a 1657.
Conquistando a realeza
As obras “Nicoméde de Corneille” e a peça escrita por Molière, “O Médico Apaixonado” foram importantíssimas para a história do grupo e na carreira do próprio Molière.
Não foi o caso de terem se destacando tanto na crítica ou mesmo em termos de público, apesar da inquestionável qualidade de ambas, mas por terem conquistado a simpatia do rei Luís XIV, que as assistira em 1658.
Ele se tornara novo mecenas do grupo e peça fundamental para fazer a companhia se juntar a outra de origem italiana, dedicada a commedia dell’arte.
Retorno de Molière a Paris
Foi nesse contexto que o artista retorna a Paris.
A companhia se estabeleceria na cidade em 1660. Molière, nesse período, passa a apresentar mais obras de sua autoria e só excursionar para outros centros ocasionalmente.
Polêmicas e proibições
É nessa época que Molière passa a enfrentar uma série de acusações de imoralidade, pois suas peças tinham como característica retratar a sociedade de seu tempo de forma muito realista e não se furtar de expor sem cerimônia as hipocrisias que a permeavam.
Era um estilo de comédia denominada de “realismo picaresco”.
Boa parcela do público se identificava com os tipos retratados e facilmente mergulhava no ambiente fictício construído. Imersão que proporcionava grande deleite e conforto, sendo um dos motivos do sucesso que o dramaturgo veio a conquistar.
Contudo, muitos indivíduos não aprovavam um universo fictício tão próximo da realidade que habitavam, muito menos quando se viam escancaradamente representados, e da pior maneira possível, “nus” perante uma plateia sem pudor de rir de suas ridicularias.
As peças de Molière lhe renderam muitos críticos, inimigos, que chegavam a fazer ameaças e promover campanhas para proibir a exibição de seus trabalhos.
Destacou-se na perseguição dos trabalhos de Molière um grupo religioso chamado de Companhia do Santo Sacramento, também conhecida como “Cabala dos Devotos”.
Esse grupo viu uma oportunidade de pôr o dramaturgo em dificuldade quando este decidi se casar com uma mulher 20 anos mais nova do que ele. Havia rumores de que a moça talvez fosse filha do próprio Molière com a sua primeira esposa, Madeleine.
Contudo, o ator ainda contava com o apoio do rei e se manteve protegido da investida de seus adversários e obteve até a permissão para satirizar o grupo em uma de suas obras mais famosas e uma das mais conhecidas em língua francesa: “O Tartufo”.
No entanto, Luís XIV só permitiu que fosse encenada cerca de 5 anos depois de escrita, somente após a derrocada do grupo religioso.
Morrendo (quase) no palco
Na época de encenação de O Tartufo, em 1669, Molière já se encontrava debilitado por doença e veio a falecer poucos anos depois, algumas horas mais tarde após sua encenação na peça “O doente imaginário”.
Contexto histórico e obra
As obras de Molière se situavam entre a ascensão do absolutismo e da economia burguesa. Pano de fundo que mereceu olhar atento, crítico e humorado do artista que tratou de compor situações específicas desses ambientes, mas, contudo, sem abrir mão do olhar para a natureza humana e suas aventuras.
Por isso, não raro é possível observar em suas obras humor e melancolia, alcançando a proeza de, em muitos casos, uma reforçar a qualidade da outra.
Principais trabalhos de Molière:
- O Tartufo;
- Casamento forçado;
- A escola de mulheres;
- O médico volante;
- O misantropo;
- O avarento;
- O burguês fidalgo.
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