Como um paÃs cuja cultura foi moldada a partir do empréstimo de talentos e do feeling artÃstico de diferentes etnias e nacionalidades, o Brasil tem em sua história uma vasta lista de mentes memoráveis que não nasceram em terras tupiniquins. É o caso, por exemplo, do emblemático Waldemar Cordeiro.
Embora italiano, Cordeiro se mudou para o Brasil ainda jovem, construindo por aqui a sua carreira como um artista que marcou época, mesmo tendo falecido também muito cedo. Essa época em questão é naturalmente a era do concretismo, a qual teve ele como um dos teóricos e fundadores por volta do começo da década de 50.
Isso não significa, porém, que ele tenha simplesmente surgido para a arte a partir daÃ, muito longe disso. Antes mesmo desse perÃodo, Waldemar Cordeiro já demonstrava seu tino para a vanguarda, passeando por distintas propostas artÃsticas e, evidentemente, contribuindo com a sua visão em todas elas.
Na sequência você confere todos os detalhes a respeito desse grande nome da arte no último século.
Sobre Waldemar Cordeiro
Nascido na década de 20, mais precisamente em 1923 em Roma, na Itália, Waldemar cursou na emblemática Academia de Belas Artes de Roma. Pouco tempo depois, no ano em que completa 23 anos, ele parte em direção ao Brasil, passando a trabalhar inicialmente como um crÃtico da Arte.
Como todo profissional com tino artÃstico, ele enfrentou uma série de impasses que acabaram por pontuar a arte no século XX. Todavia, se sobressaiu a todos eles, provavelmente em função da sua inquietude e da forma de pensar pautada na pluralidade.
Na prática, por exemplo, seu inÃcio no movimento artÃstico se deu com uma fase expressionista, mas passou a incorporar em suas obras uma série de detalhes do cubismo, bem como pontos de caracterÃsticas abstratas informais que, por sua vez, se materializariam geométricas e sinalizariam assim a sua presença nos fundamentos construtivos.
Com a evolução de sua arte, ele veio a contribuir na fundação do já mencionado concretismo, lá no começo da década de 50. Foi ele quem formulou e assinou, junto de outros nomes da arte concreta, o manifesto ruptura, em São Paulo, precisamente no ano de 1952.
A partir de então, tornou-se evidente a rejeição do artista ao conceito da arte como representação, bem como a sua adesão à ideia de que na prática ela o é um processo de conhecimento. Isso significa dizer que neste pensamento a peça se torna autônoma, sendo, portanto, uma nova realidade por si só.
A vida e a arte de Waldemar Cordeiro
Falando mais detalhadamente sobre a história de Cordeiro, é importante partir do princÃpio de sua jornada no meio artÃstico. Isso se deu em 1943, ainda na Itália, quando começou trabalhando como caricaturista para um jornal de teor satÃrico chamado Petirosso.
Três anos depois, ele viaja ao Brasil, mas não necessariamente pela arte. Filho de mãe italiana e pai brasileiro, ele viaja para conhecer seu pai. É aà que acaba aproveitando a oportunidade de se tornar crÃtico, sendo então um dos jornalistas da Folha da Manhã.
Apenas alguns meses mais tarde, em 1947, ele, do alto de sua inquietude artÃstica, resolve pintar com Bassano Vaccari (1914-2002) os famosos murais na Igreja Bom Jesus do Brás, ou seja, os Murais de Santa Rita, em São Paulo. No ano seguinte resolve retornar à Itália e dá inÃcio à sua fase na arte abstrata, retornando ao Brasil em 1949, dessa vez em caráter definitivo.
Na ocasião do seu retorno, ele compareceu ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), mais precisamente na mostra inaugural do emblemático edifÃcio. Apesar de se mostrar reticente e até certo ponto crÃtico sobre a ideia da Bienal Internacional em São Paulo, ele acaba participando não só da primeira mostra, em 1951, mas também de várias edições posteriores.
Mais tarde, em 1952, Waldemar Cordeiro então passa a ser o lÃder e teórico do Grupo Ruptura, com sua caracterÃstica concreta. A oficialização veio com a exposição homônima no próprio MAM/SP. No ano posterior ele ainda inaugurou o próprio escritório e cerca de 3 anos mais tarde participou da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, novamente no MAM/SP.
A década de 60
Antes do fim da primeira metade dos anos 60, seguindo sua tendência vanguardista, Waldemar Cordeiro resolve viajar à Europa novamente. O objetivo era uma espécie de networking, especialmente com artistas com ramificações com o Groupe de Recherche d’Art Visuel.
Não obstante, também passou a nutrir interesse pela arte pop da América do Norte, sendo ainda uma presença forte na Bienal de Veneza. Depois disso ainda encontrou tempo para dar inÃcio à jornada dos Popcretos, ao lado de Augusto de Campos.
Profundamente marcado por novas ideias, ele então passa a rever criticamente a própria ideia de concretismo, passando a adotar caracterÃsticas mais ready-made, mesclando pop art com arte cinética. Não por acaso, foi nome presente na exposição Opinião 65, do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Aproximadamente três anos mais tarde, Waldemar Cordeiro começa a pesquisar a veia artÃstica em computador, tendo como parceiro nada menos que Giorgio Moscati, o fÃsico. Também nesse perÃodo, a produção de objetos é deixada de lado e o artista passa a investigar como a arte eletrônica poderia influenciar de modo lógico a arte concreta.
Já no inÃcio dos anos 70, precisamente no ano de 1971, ele promove a exposição Arteônica. Apenas alguns meses depois, já em 1972, auxilia na criação do Instituto de Artes da Universidade (Estadual) de Campinas, a IA/Unicamp. Não por acaso, também passa a dirigir o Centro de Processamento de Imagens.
Apesar de tudo, ele fica à frente dessa missão por pouco tempo, pois em 1973, aos 48 anos de idade, acaba falecendo na cidade de São Paulo.
Ao longo de sua jornada ainda encontrou tempo para abordar em suas obras os muitos problemas sociais, isso sem contar que também se mostrou crÃtico quanto à alienação das pessoas em face do consumismo, este impulsionado principalmente pelos veÃculos de comunicação massiva.
Apesar de ter falecido muito cedo, Waldemar Cordeiro, graças à pluralidade e inquietude de seu pensamento artÃstico, deixou diversos legados para a arte, tendo realizado muito em pouco tempo, o que reforça sua importância na arte.