Marcel Duchamp é o pintor e escultor francês, posteriormente naturalizado norte-americano, responsável por muita gente dizer a célebre frase: “isto é arte?”.
Sem dúvida pode se dizer muita coisa sobre Marcel Duchamp, menos de que foi convencional. Sua arte buscava exatamente isso, tirar as pessoas do espírito complacente e passar a questionar mais o que estava diante de seus olhos, sair do comum, quebrar a rotina. Por isso, seus quadros e escultura têm a marca da provocação e da inquietude.
Originalidade, provocação e inquietude, pode-se dizer que essas características presentes nos trabalhos artísticos de Marcel Duchamp são reflexos de sua própria personalidade.
Ao mesmo tempo em que era capaz de exercer um modo de vida boêmio era concentrado e disciplinado o bastante para jogar longas partidas de xadrez, seu hobby favorito. Foi original o bastante para ser considerado um ícone vanguardista das artes da Europa de seu tempo e inquieto o suficiente para transitar por vários movimentos artísticos, como Dadaísmo, Surrealismo e Expressionismo abstrato.
Quem foi Marcel Duchamp e qual a sua contribuição para a arte moderna?
Saiba mais desse fantástico artista que marcou para sempre a história da arte a seguir.
Marcel Duchamp e sua história
Nascido em 1887 na cidade francesa de Blainville-Vrevon, Marcel Duchamp foi o mais novo de seis irmãos e fez parte da maioria que se tornou artista.
Aos 17 anos ingressou na Academian Julian e passou a trabalhar como cartunista. Nesse trabalho, colocou o seu traço sob influência de vários estilos, ainda que ligeiramente. Fez trabalhos impressionistas, expressionistas, fauvinistas e cubistas. Apesar desse contato, não se associou a nenhum desses movimentos.
Aos 20 anos, teve obras selecionadas para o Primeiro Salão de Artistas Humoristas de Paris. No ano seguinte, em 1908, expôs no Salão de Outono e no Salão dos Independentes.
A obra “Nu Descendo Uma Escada nº2” foi a primeira a causar impacto, mas depois de ser recusada para o Salão dos Independentes. Um ano depois foi exibida no “Armory Show de Nueva York”. A obra é marcada por uma mistura personalíssima de elementos cubistas e futuristas.
Mas foi em 1913 que provocou o primeiro grande abalo no mundo artístico da época. Fez com que o questionamento sobre o que seria arte ou não surgisse com força. Foi nesse período que apresentou ao mundo seu exemplar de arte conceitual “Ready-Made”, “Roda de Bicicleta”. Essa obra consistia, simplesmente, em uma roda de bicicleta sobre uma banqueta.
Já morando em Nova York com o seu amigo Francis Picabia, em 1916, teve contato com o Dadaísmo e se transformou no centro do movimento.
Anos de provocação
Em 1917 foi o ano da obra de Marcel Duchamp que mais provocou estardalhaço, por isso a mais lembrada, mas não considerada sua obra-prima: “Fonte” (mais detalhes abaixo).
Dois anos depois, lançou outra obra provocativa e que talvez mais represente seu espírito contestador ao que denominava “arte retiniana”. Nominada como “L.Q.O.O.Q”, é uma pintura que reproduz a eterna “Mona Lisa” de Da Vinci, mas com um pitoresco bigode e uma rala barbicha.
Ao longo da década de 1920, continuou a lançar suas obras de caráter contestador ao convencionalismo dos modelos artísticos tradicionais. Mas nessa década se dedica mais intensamente ao xadrez e se casa com Lydie Sarrazin-Levassor, com a qual se desquitaria no ano seguinte.
Em 1934 cria laços fortes com o Surrealismo que acaba reunido vários artistas dadaístas. No mesmo ano que obtém a cidadania norte-americana, 1955, Marcel Duchamp se casa com Teeny Sattler. Companheira que ficaria até o final de sua vida, recluso, na França de 1968.
Marcel Duchamp e sua arte
Vanguardista da arte conceitual na Europa, Marcel Duchamp provocou alvoroço ao trazer um tipo diferente, e inesperado para muitos, de arte. Acima, comentamos sobre a sua obra de 1913 “Roda de Bicicleta” e a“L.Q.O.O.Q”, de 1920, a Mona Lisa “bigoduda”.
Contudo, a que causou mais estardalhaço foi a “Fonte” de 1917, que chegou a ser rejeitada pelo júri da exposição a que se dirigia e só foi aceita quando se soube que o autor do trabalho se tratava de Marcel Duchamp.
A fonte nada mais é do que um urinol assinado por um tal de “R. Mutt” e apresentada como uma obra de arte.
A pergunta que muitos se fizeram a época e que talvez você leitor esteja se perguntado é sobre a lógica de intitular como “arte” uma roda de bicicleta sobre um banco, um quadro da Mona Lisa “vandalizado” e um urinol?
Explicar o conceito artístico e a intenção por trás desses gestos de Marcel Duchamp exige explicação específica sobre a sua arte vanguardista.
Ready-Made
O que ficou conhecido como “Ready-Made”, algo como “realidade pronta” é uma arte conceitual criada por Marcel Duchamp que se utiliza de objetos prontos e banais.
Esses objetos que podem ser uma roda de bicicleta, uma torradeira ou qualquer objeto comum no dia a dia são colocados em contextos diferentes de suas funções práticas.
O objetivo da arte Ready-Made é romper com a lógica cartesiana que imperava então no mundo artístico; retirar o caráter sagrado, místico, divino como a arte era tratada até então e aproximá-la do mundano, do homem comum.
Duchamp era contra o que chamava de “arte retiniana”, arte que agradava a vista. Ele gostava de explorar o interior de seus expectadores, mexer com suas emoções, com a essência, com a subjetividade. Desagradava-lhe a arte absorvida como uma mera leitura de códigos plenamente identificáveis. Sua arte pretendia estimular a participação ativa do público.
Dadaísmo
Esse movimento que Marcel Duchamp também integrava, Dadaísmo, também ajuda a entendermos a substância das obras desse artista revolucionário.
O Dadaísmo se propunha como um movimento de questionamento a arte vigente na Europa da Primeira Guerra Mundial. Seu combustível era o protesto, suas armas, a ironia e o caráter ilógico. Surge como um movimento de vanguarda e se estendeu não só as artes plásticas, mas também a literatura.
Além de Marcel Duchamp, outros artistas de expressão do dadaísmo foram:
- Tristan Tzara;
- Hans Arp;
- Francis Picaiba;
- Max Ernst.
Entre outros.
Ou seja, notadamente o espírito questionador que irrompeu diante da calamidade da primeira Guerra em relação ao modo de vida da sociedade e de todas as áreas que abrange foi o pano de fundo que influenciou decisivamente Marcel Duchamp, e vários artistas de sua época, a eclodir sua revolução.