Você já deve ter ouvido falar da frase, “o sono da razão produz monstros”, mas talvez não tenha visto a tela, a pintura de Francisco de Goya, na qual recebe essa ilustre frase como título.
E isso se deve ao raríssimo caso de um título de uma obra ganhar a mesma ou maior repercussão que a pintura com todo seu poder de impacto visual com formas e cores marcantes.
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É recorrente ver a frase o sono da razão produz monstros empregado em artigos acadêmicos, discussões filosóficas, debates políticos em razão da força de seu significado e poder de concisão. E o fato de ser reproduzida mais vezes do que o próprio quadro em si ocorre pela obviedade de ser mais prático e menos oneroso se concentrar em reproduzir a frase do que a tela de Goya.
Mas você compreende o significado dessa frase, como a pintura dialoga com esse pensamento e qual o contexto que levou o renomado pintor a se inspirar para produzi-la?
Aqui neste post do ArtOut você irá saber de todas essas questões envolvendo o sono da razão produz monstros, de Francisco Goya.
Siga firme na leitura para saber de mais detalhes.
Confira!
O significado de o sono da razão produz monstros
O que essa grande frase que intitula uma das obras mais famosas, emblemáticas, do espanhol Francisco de Goya tenta escancarar, embora tenha que se considerar sempre que a frase foi exposta em conjunto com a imagem, o que se deduz que foi pensada para fazer parte de um todo, somar em significado com a pintura exposta, é que a ignorância, a ociosidade, o desapego ao estudo, o desprezo a intelectualidade, o comodismo de pensamento, a hipocrisia, o deixar-se dominar por medos estremecedores produz terreno fértil para ideias perigosas, para a construção de convicções aberrantes alicerçadas pela desinformação, por pré-conceitos mal avaliados, por medos fantasmagóricos.
Em tal condição de razão anestesiada, o homem é dominado pelo estado de inconsciência que não mais lhe permite ser senhor de seus sentidos. Com a razão em sono profundo, o inconsciente assume o comando, o que pode propiciar terreno fértil para o despontar de monstruosidades.
Sem dúvida se Goya tivesse testemunhado o que ocorreu neste país nos últimos anos e meses, ver-se-ia diante de um exemplo monumental de tudo que mais detestava. Não seria surpreendente se exprimir-se: “Parabéns a todos os envolvidos”.
Mas como a tela, a pintura que leva o título de o sono da razão produz monstros, foi pensada para transmitir essa ideia, essa mensagem?
Para tanto é necessário analisar os principais aspectos da obra.
Veja a dissecação desse brilhante trabalho de Francisco de Goya a seguir.
Analisando a pintura de o sono da razão produz monstros
Concentremos primeiro na figura do próprio artista que se retratou no sono da razão produz monstros.
O homem adormecido
Metade de seu copo está inclinado sentido a escrivaninha e sua cabeça adormece sobre os braços que cobrem um escrito que parecia está trabalhando. A posição em que adormece transmite a sensação de desconforto, como que indicando que não era desejo do artista interromper sua atividade para descansar, mas que não pôde resistir aos apelos do corpo. O resultado foi uma conclusão insatisfatória e por isso incômoda para os dois lados: para o artista que queria continuar com o trabalho e para o corpo que preferia um local mais adequado, evidenciado, assim, o conflito, a relutância, a situação incômoda.
Tendo em vista, e isso ficará mais claro com a contextualização histórica, que a figura retratada é o próprio artista, reconhecido por seus dotes artísticos e intelectuais, e considerando que houve um conflito, uma relutância, mas por fim uma desistência, nota-se que Goya não dirigia seu alerta, sua crítica, ou a não só, a um cidadão espanhol mediano, que viveu hibernando na ignorância degradante e viciante por boa parte de sua vida.
Ainda analisando o título “o sono da razão produz monstros” e compreendendo o seu significado, logo, é razoável supor que a figura em sono dolorido esteja representando a razão em estado vulnerável.
Os animais
Agora se atentando as figuras do fundo da tela de o sono da razão produz monstros, os animais, é fácil deduzir que representam os monstros do título. Mas note a metalinguagem com os sonhos, com o mundo onírico, introspectivo, particular de Goya, pois estes se apresentam, surgem quando se encontra adormecido, em tons sombrios, o que podem muito bem colocá-los na categoria de pesadelos, dos medos mais profundos e íntimos do artista.
Esse aspecto fica mais evidente ao novamente avaliamos os tons empregados, o contraste de luz e sombra. Goya está sob a luz, a claridade, enquanto que os animais do quadro estão imerso na escuridão, o que lhes confere ar sombrio. Repare também que os animais em questão representam figuras noturnas, como a coruja e o morcego.
O contexto histórico
A obra integra a coleção Caprichos, que ao todo reúne 80 trabalhos do Espanhol que, apesar de ser o pintor da corte de seu país, se mantinha atento aos acontecimentos da França napoleônica revolucionária (a obra foi exposta em 1799), que vinha estremecendo os velhos impérios.
Esse período de transformação, esse sentimento por mudança e a estagnação das cortes, com seus antigos vícios, com suas “hipocrisias consagradas pelo tempo” parecia indicar que o futuro convergia para um sentido, que já não era mais possível se tornar indiferente a ele.
O sono da razão produz monstros foi uma tentativa de Goya para despertar a Espanha do sono da ignorância, da pobreza de espírito, da vulgaridade e nisto incluía os intelectuais da época.
No entanto, o espanhol veio a se decepcionar com a Revolução Francesa quando Napoleão invadiu a Espanha promovendo conflitos violentíssimos, o que o motiva a produzir quadros que denunciavam os horrores da guerra.
Considerações finais
O sono da razão produz monstros é um famoso quadro de Francisco de Goya, pintor espanhol as vezes tido como o pai da arte moderna, mas conhecido como um dos principais pintores do romantismo espanhol, integra a coleção Caprichos e foi exposto em 1799.
Na obra, Goya faz uma crítica ao que considera uma Espanha apanhada pelo sono da ignorância, da pobreza de espírito e vulgaridade ante a apatia dos acontecimentos revolucionários que marcavam a sua época.
O sono da razão produz monstros explicita que o estado em que a razão está adormecida, o que pode ser entendido como suplantada pelo comodismo da falta de questionamentos, do contentamento com respostas prontas, pelo alimentar de temores que incitam a covardia, favorece o despontar de ideias perigosas, representadas no quadro por animais noturnos.
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