O jardim das delĂ­cias, de Hieronymus Bosch

“O jardim das delícias” é uma obra de Hieronymus Bosch (pseudônimo de Jeroen van Aeken) produzida entre 1500 e 1505. Trata-se de um tríptico a óleo sobre madeira com dimensões de 220 cm x 389 cm, composto por uma tela central de 220 cm x 195 cm e duas laterais de 220 cm x 97 cm cada (pintada em ambos os lados) que podem ser fechadas por cima.

Confira, ao longo deste artigo, as principais informações e curiosidades a respeito desta magnífica obra de arte.

Hieronymus Bosch

Nascido em 1450 na cidade de Bolduque, Flandres (atual Bélgica), no idioma flamengo (ou neerlandês) esta cidade é conhecida pelo nome de “Den Bosch”, fato que deu origem ao pseudônimo do artista.

Oriundo de uma família composta por várias gerações de pintores, Bosch recebeu suas primeiras instruções artísticas na oficina familiar. A maioria dos detalhes de sua vida é desconhecida, porém, sabemos que se manteve ativo em 1840 e que era conhecido como “Jerome, o pintor”.

Em 1841, nosso artista se cada com a rica herdeira de uma das mais influentes famĂ­lias da cidade. Isso permitiu-lhe ascender socialmente e, assim, converter-se em um burguĂŞs.

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Sua nova posição social permitiu que ele tivesse independência para realizar apenas os trabalhos que escolhia, sem ter que se submeter a quaisquer patrocínios ou imposições externas.

Há indícios de que Bosch esteve intimamente ligado a leituras esotéricas, pertencendo, inclusive, a algumas sociedades religiosas da era pré-reforma, que se caracterizavam por seu pietismo.

Este movimento caracterizou-se pelo lançamento de um grande movimento em prol da renovação do cristianismo, defendendo a primazia do misticismo e do sentimento nas experiências religiosas como forma de combater a crescente – e cada vez mais influente – teologia racionalista.

Segundo alguns de seus biógrafos, Bosch viajou para a Itália entre 1500 e 1504, onde pôde presenciar, em primeira mão, o apogeu da pintura renascentista, de cuja escola teria aprendido o método de perspectiva.

Durante os anos seguintes, ele provavelmente se dedicou ao seu ofício de pintor em sua cidade natal, na qual veio a falecer no de 1516. Suas obras estão espalhadas por museus e coleções em todo o mundo, destacando-se o “Museu do Prado” em Madrid, em cujo acervo encontra-se “O jardim das delícias”.

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O caráter da obra

O “Jardim das delícias” sempre levantou muitas questões e poucas respostas. Todas essas perguntas se referem ao verdadeiro caráter da obra e qual é a sua intenção obscura.

Se levarmos em consideração, antes de mais nada, a época em que foi realizada, poderíamos afirmar que, em si mesma, ela se assemelha, até certo ponto, às representações do bestiário medieval, cujo objetivo era moralizar através do grotesco.

Por outro lado, é inegável que aqui se exprime uma fantasia sofisticada, repleta de detalhes fabulosos e, até mesmo, oníricos, que levou alguns estudiosos a afirmarem que Bosch foi um antecessor dos surrealistas.

A conclusão consensuada pela maioria dos historiadores da arte aponta que a obra tem um caráter essencialmente religioso e moralizador, cujo propósito é a condenação dos prazeres da carne.

O painel esquerdo seria, sob esse prisma, uma clara representação do paraíso, enquanto o central representaria o mundo e o da direita retrataria o inferno. Embora tal interpretação seja bastante clara e nítida, está longe de ser totalmente satisfatória quando olhamos mais de perto para essa pintura detalhada e absolutamente surpreendente.

“O jardim das delícias”: uma obra moralizadora?

O ato de vislumbrar o “Jardim das delícias” pela primeira vez provoca, no observador, uma grande curiosidade a respeito do painel central e suas cenas de prazeres mundanos, sobretudo, aqueles relacionados ao sexo e à venalidade, bem como as fantásticas representações que assombram pelo inegável talento do artista e, em alguns casos, pelo seu humor.

A luxuria, a sensualidade e as delícias da carne se dão as mãos, personificando-se em jovens e velhos que surgem em um cenário que, apesar de idílico, não deixa de transparecer elementos de precariedade.

Os animais que acompanham os seres humanos nesse carnaval luxurioso participam da alegria e da dança em uníssono com a ressonância da música secular que se espalha por todo o ambiente.

Sem embargo, ao contrário dos humanos que são vistos praticando sexo heterossexual, homossexual e onanismo, nenhum animal está copulando, pelo menos, não abertamente.

Todo o cenário é atormentado por uma atmosfera que parece ser frágil e cuja característica comum é a inconsciência, como se todos os protagonistas estivessem tomando parte em um bacanal alucinógeno que, a qualquer momento, pode terminar abruptamente.

As consequĂŞncias de uma vida pecaminosa

Será que o artista – que se preocupou em pintar com riqueza de detalhes as supostas perversões – deseja transmitir a ideia de que o pecado é o resultado de levar uma vida inconsciente que, cedo ou tarde, encontrará o seu próprio fim?

A resposta pode ser um sim, se levarmos em conta o painel direito, no qual se pode ver o inferno como consequência do pecado. Todavia, este painel não tem continuidade espacial com o central, o que ocorre com o painel esquerdo, que representa o jardim do Éden.

É possível afirmar, também, que tanto no painel central quanto no esquerdo a arquitetura é representada por uma série de edifícios fantásticos, enquanto no painel da direita se pode ver uma cidade em chamas com edificações claramente similares às de qualquer cidade ou vila da época.

Este mesmo painel apresenta seres humanos cometendo atos semelhantes aos praticados no painel central, porém, aqui eles estão profundamente atormentados, como se tivessem acabado de despertar da alucinação que os possuía.

Na parte inferior deste painel são mostradas as terríveis sentenças, sobretudo, nas quais se faz presente o próprio diabo que, com rosto de pássaro, devora os pecadores e depois os defeca em um buraco escuro, suscitando a questão: será que esse fosso representa um local ainda mais terrível e horripilante do que o próprio inferno?

A complexa simbologia de Bosch

Não podemos esgotar, no presente artigo, toda a riqueza de detalhes desta obra e o seu complexo simbolismo. Entretanto, parece razoável supor que a referida interpretação moralista de “O jardim das delícias” é bastante limitada, uma vez que existem muitas referências e conteúdos que podem ser abordados em uma análise aprofundada.

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