Academicismo não é um termo mencionado com muita frequência atualmente, mas sua origem e conceito são responsáveis por muito do que conhecemos como arte no Brasil e no exterior.
Hoje vamos explicar o que é o academicismo, qual seu objetivo, e os motivos que fazem com que hoje esse termo seja frequentemente utilizado com sentido pejorativo. Boa leitura.
O que foi o academicismo?
O academicismo, ou academismo, foi um movimento onde as academias de arte existentes no continente europeu passaram a estabelecer determinados padrões necessários para a formação artística da época.
Veja também – Pós-modernismo: saiba tudo sobre o movimento
As academias desse período defendiam que todo tipo de criação artística poderia ser ensinado utilizando como base esses padrões previamente estabelecidos.
Dessa forma o conceito de gênio, que é aquela pessoa que possui inspiração e talento naturais e os expressa de maneira livre foi totalmente deixado de lado, e não eram raros os casos onde esse talento eram notadamente recriminados.
Qual era o objetivo do academicismo?
No século XVI diversas nações que passaram a adotar o conceito de estado absoluto viam com desconfiança a manifestação artística livre, entendendo que artistas que não estivessem de acordo com suas políticas poderiam criticá-los através de suas obras.
Assim essas nações, por meio de seus governos, passaram a criar instituições que tinham como principal objetivo promover o ensino artístico profissionalizante.
O caráter oficial das academias permitiu aos governos controlar tudo o que deveria e o que não deveria ser estimulado nesses locais, criando uma espécie de controle artístico que eram baseados no gosto de alguns poucos indivíduos.
A arte como profissão
Como nas academias de arte a criatividade e o talento individuais ficavam a margem, dando total espaço para o ensino controlado de estilos e técnicas, utilizados para que seus alunos aprendessem a criar trabalhos normalmente baseados em cópias e reproduções de outros trabalhos.
Os artistas que saiam das academias de artes espalhadas pela Europa acabavam se limitando a reproduzir obras de outros artistas, já que não recebiam qualquer tipo de estímulo, que não o próprio, para aventurar-se de maneira livre em pinturas, esculturas e qualquer outro tipo de expressão artística da época.
Quando surgiu o academicismo?
O conceito de ensino artístico padronizado, formal e hierarquizado teve início ainda no século XVI, sendo a Itália o seu berço.
As academias voltadas para o ensino artístico teriam surgido em 1562, com a criação da Academia de Desenho de Florença, que fez com que esse tipo de ensino fosse amplamente disseminado por diversos países europeus.
Consequentemente é bastante comum encontrar exemplos de academias de arte em países que foram, ou que ainda são, colônias europeias.
O termo “acadêmico” como algo pejorativo
Esse uso oficial das academias para reprimir a criatividade e o talento dos artistas a partir do século XVI fez com que o simples fato de uma instituição de ensino possuir qualquer vínculo com o estado lhe rendesse o título de “acadêmica”, e, portanto, repressora, padronizada e principalmente elitista.
Por isso é tão comum que o termo “acadêmico”, ainda hoje, seja notadamente associado a algo ruim, repressivo e sem inspiração.
Academicismo no Brasil
Assim como diversos outros fatos importantes para a formação e a história do Brasil, Dom João XI foi o responsável por fundar no Brasil a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 1816 no Rio de Janeiro.
Foi nessa escola que o Brasil passou a utilizar o academicismo europeu, onde o artista jamais deveria retratara a realidade em suas obras, mas sim procurar recriar a beleza definida pelos padrões imposto pelas academias europeias.
O ensino artístico acadêmico no Brasil sobreviveu a momentos importantes da história, como a proclamação da república, o fim do modernismo e toda a vanguarda do século XX, representada fortemente pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Pedro Américo
Talvez um dos artistas acadêmicos mais conhecidos do Brasil, Pedro Américo teve suas origens artísticas ainda na sua infância no estado da Paraíba, quando passou a chamar a atenção pela qualidade de seus desenhos.
Depois de quase 2 anos acompanhando a expedição do francês Louis Jacques Brunet, em 1854 Pedro Américo chegou ao Rio de Janeiro para estudar no colégio Dom Pedro II, e logo chamou a atenção do imperador.
Depois de passar a frequentar a Academia Imperial de Belas Artes, o próprio imperador custeou seus estudos na Europa.
Certamente seu trabalho mais famoso é O Grito do Ipiranga, que retrata o momento em que Dom Pedro II declarou a independência do Brasil de Portugal em 1822 às margens do rio Ipiranga.
Hoje a obra encontra-se no Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga, na capital paulista.
José Ferraz de Almeida Junior
Considerado o primeiro artista plástico brasileiro a retratar em suas obras o cotidiano do homem comum, José Ferraz ingressou na Academia Imperial de Belas Artes com 19 anos, onde foi aluno de Pedro Américo e Victor Meirelles.
Seu talento foi reconhecido pelo imperador, que lhe concedeu uma bolsa de estudos na Escola de Belas Artes da Paris.
Seu talento e a maneira com que enxergava o mundo fizeram com que o dia 8 de maio, seu aniversário, ficasse eternizado como o dia do Artista Plástico Brasileiro.
Victor Meirelles de Lima
Outro prodígio das artes acadêmicas brasileiras, Victor Meirelles passou a realizar seus estudos na Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro aos 15 anos.
Depois de passar alguns anos se dedicando ao estudo das artes na Itália e na França, Victor retornou ao Brasil, onde se tornou responsável pela formação de uma grande quantidade de pintores importantes, lecionando na Academia Imperial de Belas Artes até 1890.
Conhecido como pintor histórico, sua obra mais conhecida provavelmente seja “A Primeira Missa no Brasil”, frequentemente reproduzida nos livros escolares espalhados pelo país.
Considerações finais
É impossível negar a importância que o academicismo teve na formação de muitos artistas em todo o mundo, sendo responsável por estabelecer um padrão de beleza nas artes que ainda resiste, mesmo com todas as transformações ocorridas no mundo todo ao longo dos séculos.
Conhecer a história da arte e seus conceitos é importante para que seja possível compreendermos um pouco melhor nossa própria história como sociedade e como indivíduos.