Para compreender o que foi o Balé Parade, vamos observar a seguinte frase:
“Queremos estabelecer uma música que satisfaça às primeiras necessidades. A arte não entra nessas necessidades. Exija músicas interessantes. Não durma sem escutar ao menos um fragmento de música interessante, ou dormirás mal.”
Esta frase foi escrita por Erik Satie, compositor e pianista francês. Ele fez parte de autores da vanguarda parisiense no século XX. Outrossim, ele foi precursor de muitos movimentos artísticos que procuravam inferir maiores sentidos à arte moderna, como o Minimalismo, Teatro do Absurdo e Música Repetitiva.
Não contente com os padrões e complexidade da música europeia, Satie compôs músicas que tinham como objetivo acompanhar o cotidiano das pessoas e, mais do que isso, ser semelhante à vida real das pessoas, de modo a aproximar a arte da cultura popular.
Após chamar a atenção de Jean Cocteau, o qual desempenhava atividades como poeta, romancista, dramaturgo e cineasta do teatro francês, teve a melodia empregada em peças de teatro e Balé, originando assim as famigeradas peças de teatro Balé Parade.
O compositor Erik Satie
Satie ingressou com quatorze anos no Conservatório de Paris, onde enfrentou preconceito por sua visão mais simplista da arte. Desde então, o compositor começou a se destacar no modo de expressar e compor suas melodias, por vezes consideradas medíocres e sem senso do ridículo por professores da academia.
Sua música foi apreciada por poucos, os críticos faziam referência à deficiente formação de Erik na música devido ao uso de harmonias e escalas pouco convencionais. Era um sujeito excêntrico e irreverente, que gostava de atribuir ironia e fazer caricaturas em suas obras.
Em 1891 ingressou em uma instituição praticante de pensamentos filosóficos a respeito de doutrinas e religiões, onde sofreu influências esotéricas em suas composições. Mais tarde, voltou seus estudos para o contraponto e orquestração, passando por um longo período sem compor melodias, até que sua obra começou a ser valorizada em 1911.
O músico Maurice Ravel levou algumas das obras de Satie para a sociedade Internacional de Música, e logo depois sua música atraiu o olhar de Jean Coteau que a levou para o teatro.
Após o primeiro sucesso de Balé Parade, o autor compôs a sua música mais original, introduzindo na melodia sons de máquina de escrever, sons de tiros e sirenes.
Do mesmo modo tornou as peças de teatro mais vulgares, pois tinham incorporados elementos da cultura popular, e contou com a participação de artistas como Pablo Picasso para a produção de peças de teatro Balé Parade que seriam reproduzidas no Balé Russo por Diaghiev.
Erik Satie faleceu em 1 de julho de 1925, com cirrose.
Repercussão para movimentos artísticos Modernistas
Parade foi um Balé que teve como tema a música de Erik Satie e cenário de um ato de Jean Cocteau. Parade foi composto em 1916 para o Balé Russo de Serguei Diaghilev, que estreou em 1917, no Teatrê Du Châtelet, em Paris.
Os cenários e figurinos foram desenhados por Pablo Picasso, e a coreografia por Leónide Massine. Além disso, o espetáculo foi orquestrado por Ernest Ansermet.
Críticas ao Balé Parade
Os críticos e o público se viram perante um escândalo a partir da mescla entre a música clássica com a baixa cultura popular, chegando a denunciar o músico, o qual foi multado por sua criação.
Foi através das críticas que surgiu pela primeira vez o termo Surrealismo, que foi tema de um movimento artístico e cultural iniciado por artistas da vanguarda europeia.
Ademis, o figurino, trazia figuras do imaginário popular e de animais, não se tinha um padrão de peças de Balé a serem seguidas e a dança e atuação não foram convencionais, que caracterizaram o início da Arte Moderna no teatro francês.
O artista Erik Satie foi precursor do movimento Minimalista, com a produção de sua obra Vexations em 1893, a qual foi formada por apenas 32 compassos que se repetem 840 vezes. Deste modo, Satie visava abolir as estruturas complexas da música e investir em estruturas mais simples e despojadas.
Por conseguinte, após a criação do Movimento Modernista Francês, Satie conduziu grupo musical Les Six, o qual foi supervisionado por Cocteau. Este grupo ficou conhecido por reagir às influências do Romantismo e Impressionismo na música.
O músico também foi criador da música ambiente, visto a ressignificação que queria dar à música, trazendo-a para a funcionalidade e preenchimento dos espaços. Deste modo, ele queria que a música fosse algo fundamental ao cotidiano das pessoas.
Consequentemente, este estilo musical inclui os sons naturais. Isso ocorreu para que não houvesse estranhos silêncios perante convidados, clientes de lojas e em ambientes no geral.
Influências de suas obras
No Brasil, o autor Caio Fernando Abreu, em sua obra literária “Morangos Mofados”, faz a menção à Erik Satie. O autor indica que seu leitor realize a leitura escutando as músicas do compositor francês.
O Balé Parade inclinava-se muito para a estética Dadaísta, a qual foi iniciada em Zurique em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. O objetivo dos autores dadaístas era elaborar uma arte que chocasse ou provocasse a burguesia da época.
Para isso, os artistas plásticos traziam para suas obras o caos, a desordem e elementos para desconstrução dos conceitos de arte tradicional.
Período histórico
Em meados de 1916 repercutiu o movimento na música e teatro francês baseado na música “de imobiliário” ou música interessante, assim denominada pelo compositor Erik Satie. Neste momento a França havia passado pelo fortalecimento da Terceira República e encontrava estabilidade.
O cenário mundial ocorria em 1914 a primeira Guerra Mundial iniciada pela Alemanha. Esta, que não cumpriu com o acordo do Tratado de Versalhes, voltando a desestabilizar a França no período pós-guerra.
Neste período entre guerras surgiu o Balé Parade, e a música do compositor Satie ganhou reconhecimento, pouco antes de sua morte em 1925. Assim, em 1939 começou a Terceira Guerra Mundial, na qual a França atuou juntamente à Inglaterra.
O movimento Balé Parade nasceu de um inconformismo de um grupo de artistas. Assim, de forma crítica, esse grupo quebrou regras e padrões estabelecidos para música e o teatro. Consequentemente, os artistas impactaram o público e também os críticos de arte, o que deu início a novos movimentos da arte francesa.