Haroldo de Campos

Conheça Haroldo de Campos, poeta e tradutor brasileiro

Em muitas ocasiões já falamos aqui sobre diferentes artistas plásticos e escultores que marcaram a história da cultura no Brasil. Apesar disso, engana-se quem pensa que apenas estes foram importantes para o desenvolvimento intelectual e artístico do país. Uma das maiores provas disso, por exemplo, é a trajetória de Haroldo de Campos.

Poeta e tradutor brasileiro, participou ativamente do desenvolvimento cultural no país através da arte escrita, dedicando a ela sua vida. Nem mesmo a sua formação em Direito o afastou de seu destino como um dos maiores nomes da poesia no último século.

Para melhor compreensão sobre sua vida e trajetória, portanto, apresentamos aqui um breve resumo do artista e suas muitas jornadas. Veja!

Vida e início da carreira de Haroldo de Campos

Paulista, nascido na capital de São Paulo em 19 de agosto de 1929, Haroldo de Campos demonstrou aptidão para a poesia ainda muito jovem. Durante os anos 40, por exemplo, já publicava traduções e poemas na imprensa da capital. Ainda nessa década, passou a estudar Direito na Universidade de São Paulo.

Um fato interessante sobre sua história, no entanto, é que, mesmo estudando, Haroldo não abriu mão da paixão pela poesia. Em vez disso, lançou seu primeiro livro em 1950, dois anos antes de sua formação em Direito. A obra em questão foi a “Auto do Possesso”, o qual ganhou vida através do Clube de Poesia de São Paulo.

Já em 1952, ano de sua formação acadêmica, ele fundou, junto do irmão Augusto de Campos, o Grupo Noigandres, que também foi encabeçado por Décio Pignatari. O nome da equipe em si era provençal e de significado visto como controverso, sendo uma palavra que aparecia no décimo dos Cantos de Ezra Pound, poeta norte-americano.

Mais tarde, o mesmo termo foi emprestado ao título de uma revista que o próprio grupo passou a publicar. Ao todo, a obra contou com 5 publicações ao longo de uma década, essas levadas ao público entre os anos de 1952 e 1962.

Ainda dentro do contexto da poesia concretista, o grupo do poeta desenvolveu trabalhos relacionados a essa vertente, mas as obras de Haroldo de Campos já apresentava um teor diferenciado. Não sem motivo, ao longo dos anos o artista ficou famoso como um dos concretistas mais inclinados ao barroco.

Além disso, é importante dizer que o grupo não se limitou a criar poesia em publicações impressas. Claro exemplo disso foi sua participação na Exposição Nacional de Arte Concreta nos anos de 1956 e 1957 em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Ao longo da jornada a equipe ainda passou a integrar o contexto do grupo Invenção. Nesse cenário, Haroldo de Campos passou a colaborar com páginas com representatividade da equipe no Correio Paulistano, uma publicação lançada semanalmente. A atividade se estendeu de 1960 até 1967.

Além disso, o poeta ainda foi nome colaborativo em “A Invenção – Revista de arte e vanguarda”, cuja edição também era da equipe. Sua contribuição se deu de 1962 a 1967, período em que foram lançados cinco números da mesma.

Haroldo de Campos

Trajetória como poeta

Em toda a sua jornada como poeta, Haroldo de Campos publicou mais de trinta títulos de livros, incluindo alguns premiados que marcaram sua história. A lista inclui, por exemplo, A Máquina do Mundo Repensada. Ele chegou a vencer, inclusive, o Prêmio Jabuti de personalidade literária. Apenas 7 anos mais tarde ele ganharia também o Prêmio Jabuti de poesia, dessa vez com a obra intitulada Crisântempo: No Espaço Curvo Nasce Um, de 1998.

Bem antes disso, mas já com ideias bem enraizadas dentro do contexto barroco, o poeta já construía uma carreira sólida com suas obras poéticas. A primeira coletânea na poesia de Haroldo de Campos foi Xadrez de Estrelas – Percurso Textual. O lançamento ocorreu em 1976 e a obra contou com uma boa pitada de “Galáxias”, texto concebido em prosa poética que, oito anos mais tarde, viria a compor a versão definitiva em sua totalidade.

Com o passar do tempo e a maturidade dentro de seu segmento, Haroldo de Campos passou também a revelar uma escrita intertextualmente mais densa. Dentre as suas obras que experimentaram esse nível de elaboração e complexidade poética estão o Signantia: Quase Coelum – Signância Quase Céu (1979) e o próprio Entremilênios, de 2009, esta lançada após a sua morte.

Todas essas obras contribuíram para a construção do nome de Haroldo como uma das principais referências da poesia no Brasil.

Haroldo de Campos como tradutor

Agora falando sobre a carreira de Haroldo como tradutor, a verdade é que na prática não há como dissociar de sua veia poética.

Isso porque consta em diversos registros literários, o que vai de Ezra Pound com seu Cantares em parceria com o irmão de Haroldo e Décio novamente, até a Ilíada de Homero, cujos volumes foram lançados em 2002 e 2003. Além destas, ainda é possível citar as publicações póstumas.

O mais interessante é que a importância de Haroldo de Campos dentro desse cenário de tradução literária não se restringe ao seu vasto domínio linguístico-literário. Chama a atenção nesse cenário principalmente o fato dele propor reflexões a partir de importantes obras.

A lista de exemplos vai desde produções hebraicas do cânon bíblico até nomes fortes da poesia contemporânea, incluindo Konstantinos Kaváfis e Octavio Paz, além de Giuseppi Ungaretti, só para citar alguns. Isso sem contar as aventuras do tradutor bebendo de inspirações de Dante e Goethe e até o clássico da poesia chinesa e outros idiomas.

Graças à sua peculiaridade na área da tradução, seu trabalho pode ser definido como “transcriação”. Não obstante, ele ainda se debruçava sobre a reflexão crítica a respeito do fazer literário, sempre procurando acompanhar o raciocínio com importantes teorias.

Premiações e homenagens recebidas por Haroldo de Campos

Mediante toda a sua contribuição para a história da poesia brasileira de modo geral, ao longo dos anos, Haroldo de Campos recebeu merecidos reconhecimentos além dos já citados.

Um exemplo foi a inclusão de sua biografia na Enciclopédia Britânica, o que ocorreu em 1997. Outro bom exemplo é o Prêmio Octavio Paz de Poesia y Ensayo, no México, dois anos mais tarde.

Não obstante, Campos ainda foi homenageado nas Universidades norte-americanas de Oxford e Yale na ocasião da comemoração de seus 70 anos. O poeta e tradutor veio a falecer em 2003, em São Paulo.

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