O juízo final, de Michelangelo

O juízo final, de Michelangelo, e sua importância para o Renascimento

Uma das obras mais controvertidas de todo o Renascimento, O Dia do Juízo Final também mostra um Michelangelo Buonarroti com toda sua genialidade como pintor, artista e profundo conhecer do corpo humano. O Juízo Final, como é mais conhecida, está localizada na Capela Sistina, na parede que se situa logo atrás do altar onde o Papa reza suas missas.

Sob a forma de afresco sobre a parede, esse fenomenal painel possui 13,7 m de largura por 12,2 m de altura e constitui-se numa das principais e mais conhecidas obras do Renascimento, um dos períodos de maior revolução do pensamento humano e que ocorreu entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.

O fim da raça humana sobre a terra

Por isso mesmo e por suas características, o período histórico em que ela foi pintada já dá sinais de profunda turbulência do pensamento social.

Muitos dos artistas que iniciaram e propiciaram o Renascimento Italiano já começavam a mudar-se para outros centros europeus, como França, Alemanha e Países Baixos, entre outros, dando início ao Renascimento Nórdico, como esse movimento ficou conhecido.

O Juízo Final foi pintado por Michelangelo entre 1535 e 1541 e, na visão do artista, representou o dia que marcou o fim da raça humana na terra e quando Deus – e Jesus Cristo, em especial – decidiram quem deveria ir para o céu e quem seguiria para o inferno.

Já era um dos mais prestigiados

A pintura foi originalmente encomendada pelo papa Clemente VII, mas só começou de fato a ser pintada após a sua morte, já durante o papado de Paulo III.

Alguns anos antes, pouco mais de dez, Michelangelo já havia pintado o teto da Capela Sistina, durante o papado de Júlio II, com quem teve muitas desavenças.

Ele já era nessa época, portanto, um dos mais prestigiados artistas italianos, mais especificamente da região da Toscana, onde fica Florença, junto com Siena o berço do Renascimento.

O juízo final, de Michelangelo

Já velho, doente e abatido

Como se considerasse mais escultor do que pintor, Michelangelo resistiu um pouco ao assumir este segundo trabalho dentro da Capela Sistina. Já estava com quase 60 anos e muitos dos seus amigos o consideravam doente demais para assumir tamanho trabalho.

Por isso, ele contratou para auxiliá-lo outro dos grandes artistas da época, o seu amigo e pintor Sebastiano del Piombo.

Essa parceria, entretanto, não durou muito, pois Michelangelo logo brigou com del Piombo e completou a obra sozinho, com um detalhe importante para um homem de 60 anos naquela época – durante quase todo o tempo, ele trabalhou deitado sobre andaimes improvisados.

Um retrato com figuras sombrias

O painel ocupa toda a parede logo atrás do altar da Capela Sistina. Ali existiam duas janelas e algumas pinturas, que foram retiradas ou apagadas. Uma das pinturas trazia cenas da vida de Cristo e outra sobre Moisés, além de uma imagem da Virgem de Assunção. Tudo foi retirado.

Em O Juízo Final, Michelangelo sai bastante das figuras radiantes que compõem os afrescos do teto. Faz a representação de 391 figuras sombrias, todas originalmente retratadas nuas, incluindo a Virgem Maria.

Males que se abateram sobre a terra

No centro do painel, Jesus Cristo representa um juiz com aspecto terrível e implacável.

Com a mão direita levantada em direção aos que estão à sua esquerda, parece condená-los pelos males que causaram à terra durante sua existência. Estes encaminham-se indelevelmente para o inferno, onde os espera Minos e outros demônios.

Virgem Maria, à direita de Cristo, faz um gesto como se não quisesse ver ou participar dessa cena. Ela se recusa a reconhecer os males que se abateram sobre a terra, com toda a miséria, o caos e o sofrimento provocados pelos que agora vão queimar pela vida eterna.

Crise da igreja retratada fielmente

Para muitos críticos, Michelangelo colocou em O Juízo Final tudo o que estava sentindo em relação ao caos cultural, político e religioso que se abatia sobre a Europa – e a Igreja, em particular – nesse período da história.

Vivia-se o início da Reforma Protestante que levou à divisão da Igreja e o surgimento das igrejas evangélicas, com o Calvinismo e o Luteranismo, com Jehan Cauvin (Calvino) e Martin Luther.

Essa crise espiritual desagradava ao artista, que manifestou toda sua preocupação em O Juízo Final. Aqueles que estavam se afastando e criticando a Igreja iriam pagar com a eternidade no inferno, retratou ele fielmente.

O juízo final, de Michelangelo

Nudez gerou muitos protestos

E Jesus Cristo foi colocado ali, bem ao centro do painel, para julgar os bons e os maus.

Mas, não aquele Cristo sempre adorado como bom e capaz de dar a outra face, mas como um juiz impiedoso diante do comportamento infiel de alguns seguidores na terra. Talvez fosse isso que Virgem Maria não queria assistir.

Como obra de arte, O Juízo Final é qualificado como uma das mais importantes obras do Renascimento.

As principais críticas que recaíram sobre o painel foram pela nudez das figuras. Isso gerou muita polêmica e desgostos, inclusive a partir de alguns dos principais assessores do Papa.

Precaução faz cobrir parte da nudez

Os anos seguintes ao término da pintura foram de muitas críticas e aprofundamento da crise interna na Igreja, que chegou a ser acusada da hipocrisia e a obra de pornografia.

Foram mais de 20 anos de difamação da obra de Michelangelo, com uma campanha insistente para sua destruição. O Concílio de Trento chegou a fazer recomendações contra a nudez em obras católicas.

Temendo o pior e a destruição de O Juízo Final, o Papa Clemente VII encomendou à artista Daniele da Volterra que cobrisse a nudez de algumas figuras, como da Virgem Maria, o que foi feito exatamente no ano da morte de Michelangelo.

O Juízo Final recupera as cores

Mais recentemente, entre 1980 e 1994, foram feitas restaurações na Capela Sistina, incluindo a limpeza de vários afrescos. Entre estes, O Juízo Final, a obra extraordinária de Michelangelo. Então, entre outras coisas, alguns nus voltaram a ser como estavam na pintura original.

Outra questão importante é que suas cores vibrantes foram recuperadas.

Por séculos, o painel ficou exposto à poeira do ar e fumaça das velas ali acesas todos os dias. Isso reavivou nos críticos a ideia que Michelangelo, além de impressionante gênio da escultura, era também desenhista com excelente perspectiva das cores.

O Juízo Final revelou-se, enfim, uma obra perfeita em toda sua plenitude.

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