Ovo Farbegé: uma obra prima da joalheria

Em 1916, em São Petersburgo, na Rússia, o ourives Peter Carl Fabergé supervisionava a produção de dois pares de Ovo Farbegé decorativos e opulentos. Os objetos eram destinados aos presentes reais de Páscoa, apresentados à imperatriz Maria Feodorovna e à czarina Alexandra Feodorovna em abril de 1917. Mas as mulheres imperiais nunca veriam esses ovos, nem Fabergé os acabaria.

Quando os bolcheviques tomaram São Petersburgo, o domínio Romanov de três séculos de duração chegou a um fim violento e tumultuado. A família foi forçada a sair da cidade e deixou para trás cinquenta unidades de Ovo Farbegé, criados entre 1885 e 1916. Lembranças pequenas, mas extremamente luxuosas do grande reinado da dinastia.

Um século depois, o Ovo Farbegé continuaria a ter uma posição inigualável na história das artes decorativas. Sem dúvida, é realmente incomum ter uma obra de arte decorativa (que não uma pintura) que tenha tanta ressonância cultural quanto o Ovo Farbegé. De fato, seu impacto cultural pode descrito como uma “Mona Lisa do mundo das artes decorativas”.

Casa Farbegé

A Casa Faberge teve um início extremamente humilde. Afinal, Peter Carl Fabergé nem sempre foi o joalheiro oficial da Corte Russa. Na verdade, o pai de Peter o treinou como ourives em São Petersburgo, antes de abrir uma joalheria no porão. Sem dúvida, Fabergé passou por um extenso treinamento, ensino e estudo de ourivesaria.

Em 1882, ele assumiu o negócio da família quando seu pai faleceu, e naquele ano o czar Alexandre III viu parte do trabalho de Fabergé em uma exposição. O czar foi cativado e ordenou que os itens fossem exibidos no Museu Hermitage do país como exemplos de arte russa moderna de primeira linha.

O primeiro Ovo Farbegé

O primeiro Ovo Farbegé remonta ao ano de 1885, quando o czar russo Alexandre III encomendou um presente de páscoa para a imperatriz Maria Feodorovna, sua respectiva esposa. Afinal de contas, o feriado está entre as celebrações mais importantes do calendário eclesiástico ortodoxo da Rússia.

Assim, Alexander recrutou o premiado mestre ourives Peter Carl Fabergé. O artista – que deu seu sobrenome ao célebre ovo – administrava a Casa Fabergé desde 1882, depois de herdá-la uma década antes de seu pai joalheiro. Em suma, Fabergé era conhecido por criar objetos sofisticados e jóias, além de ajudar nas restaurações do Museu Hermitage, em São Petersburgo.

Como Fabergé era um homem culto e instruído na história da arte, acredita-se que ouvires tenha baseado o primeiro Ovo Farbegé em um ovo real do século dezoito, que ele vira no museu da Alemanha. O ovo, que acreditam ter servido de inspiração, era feito em ouro, bem como a galinha, a coroa e o anel que o acompanhavam.

Ao que tudo indicado, analisando o ovo dourado, Fabergé criou sua própria versão, que se abria para uma gema de ouro onde uma galinha era escondida. Essa, por sua vez, dava entrada para um pingente. A “surpresa” final – isto é, o prêmio escondido dentro de cada Ovo Fabergé – veio de acordo com o pedido do czar.

Depois disso, Fabergé recebeu carta branca para criar o que quisesse, mas tudo tinha que ter alguma influência da própria família. Assim, a cada ano, durante três décadas, Fabergé idealizou seus próprios projetos e liderou a produção dos ovos imperiais de Páscoa, conhecidos hoje como Ovo Fabergé.

Afinal, quando Alexandre III morreu, em 1894, o czar Nicolau II, seu filho, manteve viva a tradição e aumentou as apostas: ele começou a encomendar dois ovos anuais, um para Maria, sua mãe, e outro para Alexandra, sua esposa.

Cada Ovo Fabergé é uma peça única e exclusiva

De fato, os ovos eram inteiramente únicos e exclusivos, produzidos com uma variedade de materiais, do ouro ao quartzo hialino. Além disso, cada Ovo Fabergé  era sempre cercado por pedras preciosas e gemas, como esmeraldas, pérolas e diamantes.

Eles também variavam em tamanho, de menos de cinco até quinze centímetros de altura. Muitas vezes – embora nem sempre -, poderiam ser abertos para revelar uma surpresa. Ou seja, era muito mais do que o aspecto externo do ovo. Eles eram, de fato, um embrulho requintado de presente mais caro que alguém poderia fazer.

É como um Kinder Ovo, muito comum para os brasileiros por seus “brindes” no interior. Porém, claro, com um valor, uma exclusividade e um requinte artístico que os coroava. Sem dúvida, mesmo enquanto ainda estavam sendo produzidos, os Ovos Fabergé eram considerados como artisticamente inovadores.

Eles eram a peça de assinatura de Fabergé. Mesmo naquela época, o Ovo Fabergé já possuía uma magia, pois todos sabiam que eles representavam um status e um conceito. Isso influenciou outros artistas, na época, que tentaram fabricar seus próprios ovos baseados na premissa de Fabergé.

A arte inovadora e incansável do Ovo Fabergé

De fato, a Casa Fabergé também era conhecida por fazer ovos para clientes ricos fora da família imperial na época. Por isso, a cada ano, Fabergé reinventava a tarefa, empregando materiais inesperados ou novos dispositivos, como relógios ou autômatos, como pequenos pássaros ou elefantes.

O Ovo Fabergé mais icônico existente hoje, de acordo com especialistas, é o Ovo da Coroação, produzido em 1897. O Ovo da Coroação, como o nome sugere, comemorava a coroação imperial de Alexandra. O ovo, que contêm padrões gravados e diamantes, é uma réplica em miniatura da carruagem do século dezoito que transportou a imperatriz no dia da cerimônia imperial.

Podia-se abrir as pequenas portas da carruagem e puxar um banquinho, e dentro dele haveria um pequeno ovo de diamante (que, infelizmente, já se perdeu). Nos dias de hoje, o Ovo da Coroação se encontra no Museu Fabergé, em São Petersburgo. Atualmente, sabe-se que quarenta e três dos cinquenta ovos imperiais originais existem e podem ser encontrados em museus e coleções particulares em todo o mundo.

De fato, o Ovo Farbegé, símbolo de riqueza, nobre e requinte artístico, continua a capturar o imaginário e cobiça do público. Embora a opulência dos ovos imperiais originais permaneça limitada às primeiras edições produzidas por Peter Carl Fabergé, a Casa Fabergé continua fabricando ovos de luxo, jóias requintadas e objetos de arte há um século.