Transvanguarda

Transvanguarda: um movimento artístico italiano da pós-modernidade

O movimento artístico conhecido como transvanguarda surgiu no final dos anos 1970 e teve repercussão ao longo da década de 1980. Ele despontou na Itália por meio de um quinteto de pintores que aspiravam encepar uma voz dissonante a arte conceitual  que dominava o cenário europeu, principalmente italiano, de então.

O termo transvanguarda foi cunhado pelo crítico Achille Bonito Oliva em 1979. Esse movimento foi marcado pela fusão de várias linguagens, entretanto. Não tinha compromisso de influir na sociedade ou mesmo provocar uma transformação na arte.

A transvanguarda certamente rompeu fronteiras e influenciou muitos artistas mundo afora e que se sentiram estimulados a iniciar seus próprios movimentos inspirados nos seus valores e premissas.

O Brasil foi um dos locais que recebeu influência desse pensamento artístico. Ele serviu de contraponto ao pensamento autoritário que dominava várias esferas da sociedade brasileira oitentista, inclusive a artística.

São Paulo e Rio de Janeiro foram os principais centros de difusão dessa produção de arte que serviu para o despontar de uma geração de artistas plásticos que marcaram época.

A transvanguarda jamais se posicionou como um movimento vanguardista. Sua arte não é compromissada em causar transformações sociais nem culturais, porém, curiosamente, recorre a recortes, releituras de trabalhos de épocas passadas considerados vanguardistas para compor algumas de suas obras.

O que é transvanguarda?

Transvanguarda tem início na Itália do final dos anos 1970 e surge como uma reação, um caminho diferente do proposto pela arte conceitual em voga, principalmente a arte povera.

A arte conceitual iniciada na década de 1960 dispensa o formalismo e uso de objetos. Prioriza a construção de ideias e conceitos, uma arte que mexa com os sentimentos internos de seus apreciadores.

A arte povera se enquadra nesse leque de opções chamado arte conceitual. Ela despontou também durante os anos 1960 e tinha como proposta diminuir as barreiras existentes entre a produção artística de momento e o cotidiano das pessoas simples, da maior parte do público.

Saiu de cena na arte povera elementos tradicionais das artes clássicas e entrou outros mais simples com o objetivo de tornas as obras mais reconhecíveis e palpáveis para o grande público.

Passou-se a utilizar elementos como madeiras, sacos, jornais, terra, trapos, entre outros e até mesmo a tinta utilizada devia ser com o intuito de “empobrecer” a obra, no sentido visual, estético, para gerar proximidade com o cotidiano simples das pessoas.

Com esse mesmo objetivo, os temas abordados nesse tipo de arte eram ligados a elementos de fácil assimilação e de caráter universal. Por isso, produziu-se muitos trabalhos que tinham elementos da natureza em destaque.

Essa escolha também era uma renúncia aos processos industriais e uma crítica ao empobrecimento da sociedade apesar do incentivo de acúmulo constante de riquezas.

Transvanguarda

A transvanguarda devolveu ao mundo a alegria das cores

Advinda como um movimento contrário à arte conceitual vigente até então, em especial a povera, a transvanguarda marca o retorno do uso de cores alegres e vibrantes em pinturas e esculturas.

Mas essa não foi a única mudança, a única ruptura em relação à arte conceitual povera e também não se restringiu ao descompromisso a uma consciência política com anseios transformadores por meio da arte.

Outros elementos marcam a transvanguarda.

Esse estilo, por exemplo, tem predileção especial pela fragmentação. Portanto, nada mais adequado para falar dessa corrente artística em texto do que fragmentar suas principais características em tópicos.

Fragmentos do passado

Outra característica da transvanguarda é realizar obras figurativas, com referências iconográficas, de preferência usando fragmentos de obras do passado.

Apesar de seus idealizadores defenderem que o movimento não tinha como proposta ser vanguardista, pois como dito seu interesse não era provocar transformações sociais e culturais, apenas se concentrar no presente e seus recursos de expressividade, os fragmentos utilizados eram de obras antigas consideradas de vanguarda em seu tempo.

Junte o retorno das cores alegres com a iconografia e tem-se uma bela amostra de arte de transvanguarda.

Retorno ao clássico

Outro elemento que caracteriza uma obra transvanguarda é uso de elementos de uma linguagem pictórica clássica. A inspiração, por exemplo, em temas mitológicos como ciclope e minotauro, além dos grandes temas heroicos da antiguidade.

As grandes influências da transvanguarda foram o Neoexpressionismo, o Renascimento e Barroco. A lógica era resgatar a pintura como meio de expressão da identidade de uma cultura e para tanto recorre-se a ícones do passado.

Nomadismo

Completando a lista de ingredientes que formam essa expressividade artística de origem italiana conhecida como transvanguarda, o “nomadismo”.

Esse termo se refere à liberdade que os autores desse movimento têm de transitar por diferentes estilos do passado para desenvolver as suas obras. Na transvanguarda, não há restrições quanto a usar livremente referências de outros autores.

Transvanguarda no Brasil

A transvanguarda chegou no Brasil também nos anos 1980, em momento que o país atravessava o duro período dos anos de chumbo. Período marcado por muita censura e restrito a um tipo de arte mais austera e racional.

Essa década também foi marcada pelo afrouxamento gradual dos órgãos de censura quanto à liberdade de expressão e obras artísticas.

Com a vontade de se expressar contida por tanto tempo, o movimento iniciado na Itália serviu de estímulo e surgiu em momento propício para a criação de uma nova vertente da arte brasileira.

Vertente usada como grito de liberdade artística. Ficou conhecida como Geração 80.

Assim como a transvanguarda italiana, essa disruptura artística dos modelos empregados até aquele período, que predominavam na cena artística brasileira desde os anos 1960, não tinha compromisso de causar transformações sociais e culturais. Sua intenção era de promover a liberdade criativa e outras formas de expressão.

No entanto, a Geração 80 se distinguia ao menos em um aspecto da transvanguarda italiana, que era a priorização de uma arte mais subjetiva como um contraponto da arte austera e tradicionalista que predominava no campo artístico brasileiro.

O grande momento dessa nova onda nas artes brasileiras foi a exposição “Como vai você, Geração 80?”, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1984, que reuniu 123 artistas.

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