Porta de entrada para a Idade Moderna ou ponte entre a Idade Média e o início da modernização da civilização humana, com o fim do período feudal, o Renascimento é uma das épocas de melhor aprimoramento do pensamento humano que se conhece. Mas, dividido em dois períodos: primeiro o Renascimento Italiano, que começou no século XIV, logo seguido do Renascimento Nórdico, no restante da Europa.
Foi um período extraordinário para as artes, literatura e, principalmente, as ciências, em que o homem descobriu que não precisava ficar apenas pensando ou adorando Deus e que podia, também, pensar em si mesmo como centro do Universo.
Renascimento Nórdico, um século depois
O Renascimento italiano mudou o pensamento do mundo de então e foi de meados do século XIV até o século XVI, com o surgimento de alguns dos maiores nomes das artes e ciências que se conhece até hoje. Começou pela região da Toscana e, aos poucos, desceu para Roma e o restante da península italiana.
Já o Renascimento Nórdico demorou cerca de um século para atingir o restante da Europa. Espalhou-se por regiões como a França, Alemanha, Inglaterra, Países Baixos, Polônia e outros pontos do continente Europeu.
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Artistas italianos em outros centros
As ideias originais de Florença e Siena, os berços do Renascimento italiano, ganharam outros centros, inclusive com a transferência de alguns artistas e pensadores italianos para estas cidades e regiões. Leonardo da Vinci, por exemplo, um dos principais artistas da Itália, foi levado para Paris pelo Rei Francisco I.
Francisco I também subvencionou outros artistas italianos e, com eles, mandou construir grandes palácios, o que se transformou no pontapé inicial do Renascimento na França.
Na arquitetura e boa parte das artes, entretanto, foi pouca a influência italiana no Renascimento Nórdico, permanecendo bastante a presença do Gótico, de presença forte especialmente na Alemanha e Países Baixos.
Humanismo e a busca pelo belo
Mesmo assim, embora existam muitas semelhanças entre esses dois movimentos do pensamento mundial, a partir do século XIV, na Itália, e XV, nos demais países europeus, há diferenças capitais que os separam.
Na península italiana, predominou o retorno e a busca aos antigos e clássicos autores da Grécia e Roma, uma espécie de ressurgimento dessas culturas.
Por isso mesmo, o Renascimento italiano foi marcado pelo humanismo e naturalismo, em que a perfeição fazia parte das pinturas e esculturas. Essa procura do belo incluía a tentativa de encontrar a perfeição nas figuras, inclusive na anatomia e simetria.
As obras que mais se destacaram
Também predominaram as cenas religiosas e algumas mitológicas, sejam em afrescos ou pinturas de óleo sobre tela.
São dessa época, por exemplo, algumas das obras mais famosas do Renascimento, incluindo A Criação de Adão, que Michelangelo pintou entre 1508 e 1512, e a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, obra pintada entre 1503 e 1506.
É claro que existem ainda hoje muitas obras desse período, seja em pintura ou esculturas, nos principais museus do mundo, mas, sem dúvida, estas duas são algumas de maior destaque. Mona Lisa está no Louvre, em Paris.
Mundo mais realista e menos mítico
No caso da Renascença Nórdica, houve a importante influência de dois acontecimentos que marcaram a história mundial e da região: a Reforma Protestante, de um lado, a as grandes descobertas marítimas, de outro.
Cada um à sua maneira, esses dois fatos históricos mudaram e influenciaram a vida, a cultura e a economia das nações europeias.
Passou a ser outro o entendimento da vida e da cultura, por exemplo. Em vez de predominante inspiração religiosa, como ocorreu na Itália, o Renascimento Nórdico passou a valorizar mais a figura humana, retratando o mundo de forma mais realista e menos mítica.
Predominância do realismo intenso
Esse realismo aparece, de forma especial, na pintura de paisagens ou cenas de interiores. Também naturezas mortas foram muito trabalhadas, assim como alguns estudos da fisionomia humana.
São raras as cenas de caráter mais religioso no Renascimento Nórdico, mas elas existem.
Esse realismo intenso aparece em quadros e esculturas. São comuns, por exemplo, detalhes tão intensos que é possível ver o tipo de tecelagem em roupas ou na moldura de chinelos ou sapatos da época. Há a preocupação em mostrar honestidade na reprodução de imagens.
O mais importante eram os detalhes
Entre as obras mais conhecidas e famosas dessa época, estão A Queda de Ícaro, de Pieter Bruegel, pintado em 1558 e que está hoje no Museu de Belas Artes, de Bruxelas, e O Jardim das Delícias, de Hiernonymus Bosch, datado de 1500 a 1505, um óleo sobre um painel de quase dois metros quadrados e que hoje está no Museu do Padro, em Madri.
Esta é a grande diferenciação entre as obras do Renascimento Nórdico em relação ao Renascimento Italiano.
Para alguns estudiosos dessas obras, a preocupação dos artistas com esses detalhes realísticos, como a textura de um casaco, fez com que até mesmo tenham se esquecido de dar uma abrangência mais global ao tema da pintura.
O que importava, mesmo, eram os detalhes.
Fatos históricos que foram decisivos
Algumas observações importantes precisam ser feitas. A primeira é que a Itália ainda não existia como nação e cada cidade constituía um núcleo independente. A união dessas cidades para constituir a atual Itália só ocorreu no século XVIII.
Com as descobertas marítimas, especialmente por Portugal e Espanha, essas cidades perderam a hegemonia do comércio de especiarias e esse enfraquecimento econômico contribuiu para que muitos artistas rumassem para outros centros europeus. Muitos mecenas, que patrocinavam artistas, deixaram de ser tão ricos, por exemplo.
O segundo fato histórico importante que influenciou o Renascimento – tanto o italiano quanto o Nórdico – foi que essa época coincidiu com o fim da Idade Média e, portanto, com o feudalismo. Surgiu uma nova classe rica e influente, a burguesia, com pensamento oposto ao dos senhores feudais.
O homem com mais curiosidade
Os centros urbanos cresceram e se transformaram em grandes cidades, com o homem tendo mais autonomia para pensar e atuar.
Houve maior desenvolvimento das ciências, com o experimentalismo, e a sensação de que o homem era o centro do universo e não Deus. O homem passou a ter opinião e a manifestar-se sobre todo e qualquer assunto.
A palavra já não era mais exclusividade dos senhores feudais. Isso mudou a sociedade e a influência sobre as pessoas foi total.
Na medida em que essas mudanças ocorriam, aguçou-se no homem a curiosidade e a vontade de discutir temas tão importantes como sua própria existência. No Renascimento Nórdico, esta ‘descoberta’ foi ainda influenciada pela Reforma Protestante.