Ao longo de sua história, o Brasil abrigou inúmeros talentos do meio artístico, mas o último século talvez tenha sido o que mais brindou o país com nomes icônicos para o desenvolvimento da cultura e da arte nacional como um todo. Além de nomes que já citamos aqui no site, tais como Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro, por exemplo, um personagem que traduz bem isso é o emblemático Ivan Serpa.
Famoso nos quatro cantos do país e naturalmente também em grande parte dos países do mundo, Ivan se notabilizou por ser uma figura multifacetada no âmbito cultural. Ele expressou sua arte através do figurativismo e da arte concreta e, apesar de ter falecido cedo, aos 49 anos, deixou uma grande herança cultural ao país.
De modo geral, ele contribuiu grandemente não só com a evolução da arte e cultura por suas próprias obras, mas também na formação de outros talentos artísticos ao longo das décadas.
A seguir, falamos mais detalhadamente sobre sua vida e trajetória. Confira!
Quem foi Ivan Serpa – vida e carreira
Nascido na década de 20, mais precisamente no ano de 1923, o carioca Ivan Ferreira Serpa fez da arte a sua vida. Ele participou ativamente de movimentos renomados e importantes na história cultural do país. Dentre as muitas maneiras de expressar suas ideias, ele se destacou como pintor e desenhista, sendo ainda professor e gravador.
Considerando o dinamismo de sua arte e a facilidade de expressar suas ideias das mais diferentes maneiras, podemos falar sobre sua carreira pontuando suas principais fases. Para melhor compreensão, dividimos em tópicos, aos quais passamos a seguir.
Fase 1 de Ivan Serpa
Temos aqui o início da trajetória de Ivan Serpa em meio à arte, o que aconteceu ainda no começo dos anos 40, em sua adolescência. Na ocasião, ele começou criar seus primeiros desenhos, já demonstrando grande aptidão para a área.
Apostando nessa veia artística, seis anos mais tarde passou a fazer aulas com o emblemático Axl Leskoschek, nos idos de 1946. Nessa fase, ele também estendeu seu aprendizado à gravura e à pintura. Foi aí que se prestou, portanto, em extrair o máximo do mentor Leskoschek.
Apesar do tino para múltiplas formas de arte, nesse período ele busca realizar obras figurativas e sem muita preocupação com temas ou visão literária. Todavia, aproximando-se do fim da década, começa a se distanciar de pinturas de teor acadêmico e modernismo nacionalista. Assim, passa a buscar mais a estrutura da composição e ritmo das formas.
É nesse período que ele então adere ao abstrato, ainda que de maneira tímida, realizando em 1947 a primeira obra do gênero. A obra em questão foi um guache gestual ordenado de maneira geométrica. Depois desse ponto de virada, Ivan Serpa chega à década de 50 já buscando sistematicamente a arte abstrata.
Fase 2 de Ivan Serpa
Mergulhando na abstração, o artista passa então a recompor temas mais clássicos da pintura, explorando pureza de cores e as formas orgânicas, além de menções figurativas a partir de moldes geométricos.
Dentro desse contexto, concebe então em 1951 a pintura Formas, onde explicita de fato sua paixão pela geometria no contexto do abstrato. As convicções do artista quanto a essa nova vertente, porém, ganham novos ares pouco tempo depois, quando ele tem contato com peças de artistas concretos famosos.
Neste mesmo ano ele recebe o título de Melhor Pintor Jovem na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, onde, aliás, conhece o concretismo de Max Bill e Sophie Taeuber-Arp. A partir daí, resolve se render definitivamente ao concretismo. Diante disso, abandona em definitivo as referências à realidade e se presta a trabalhar a geometria das obras com organização matemática, trabalhando de maneira extremamente precisa a figura e o fundo.
No próximo ano, ele enfim embarca em uma nova aventura, tornando-se professor no Museu de Artes Modernas do Rio de Janeiro. É lá que ele forma alguns dos grandes talentos culturais e artísticos do país, incluindo o já mencionado Hélio Oiticica.
Ainda na década de 50, se propõe então a criar o Grupo Frente, lá por volta de 1953. Esse grupo artístico não tinha exatamente todas as características do concretismo, no entanto, o coletivo abrigou a produção concreta do Rio de Janeiro. O “time” foi liderado pelo próprio Serpa até 1956, quando o mesmo se dissolveu.
Aprimoramento e fidelidade
Já na década de 60, Ivan Serpa passou a seguir ainda mais fielmente seus princípios construtivos. Isso implicou em tornar a exploração das formas geométricas ainda mais objetivas. Dessa forma, passou a usar nessa fase uma série de materiais da indústria, optando especialmente pela neutralidade nas texturas.
Nesse aprimoramento, ele também buscou afastar a pessoalidade de suas obras, o que fica explícito com o nome dado às obras compostas nessa época: Faixas Ritmadas e Construções. Mesmo dentro desse cenário, no entanto, Ivan ainda se propõe a experimentar. Dessa forma, segue cometendo pequenas ousadias para não limitar a sua criatividade.
Em meio a esse processo ele então se torna menos determinista em relação ao concreto, passando a incorporar manchas, gotas de tinta e até gestos em suas obras. Seguindo essa fase mais experimental e de adesão mais enfática à figuração, ele adere ao desenho infantil. Assim, passa a pintar manchas informes, construindo a partir daí uma série de imagens que transitavam entre o abstrato e o figurado.
Ainda nos anos 60, mais precisamente em 1963, se rende de fato ao figurativismo, focando mais especificamente na figuração gestual, com similaridade ao grupo CoBrA. É essa nova frente que o coloca próximo de nomes que receberiam a alcunha de Nova Objetividade Brasileira.
Nesse contexto, encontra tempo e reúne seu talento para criar Série Negra, as séries de Bichos e Mulheres com Bichos.
Fase Op Art
Caminhando para o fim dos anos 60, já em 1967, ele começa então a retomar a linguagem construtiva como principal em sua arte, passando a trabalhar novamente com elementos claramente definidos a partir de figuras geométricas. Nesse período também começa a trabalhar com Op Erótica em um subnicho da Op Art.
Nesse caminho ele segue até chegar às pinturas Geomânticas, um projeto que se inicia em 1969 e segue até 1973, quando Ivan Serpa vem a falecer no Rio de Janeiro, sua cidade natal, antes mesmo de completar seu 50º aniversário.