Ao longo dos séculos, a pintura e escultura têm ocupado posição de destaque no cenário artístico ao redor do mundo. Seguindo essa tendência, o Brasil se tornou um dos muitos países que deram espaço para obras e artistas dessa vertente. Não por acaso, com o passar do tempo muitos talentos surgiram no país, ganhando destaque com criações e movimentos de repercussão nacional e internacional. Um dos maiores exemplos nesse contexto é provavelmente a emblemática Lygia Clark.
Mineira, ela se tornou uma das mais importantes pintoras e escultoras do Brasil. Isso aconteceu não apenas por sua arte, mas também por sua postura e filosofia diante dela. Na sequência apresentamos com maiores detalhes os fatos marcantes da vida e carreira da artista. Confira!
Lygia Clark – vida e primeiros passos na arte
Nascida em outubro (dia 23) de 1920 na cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Lygia Clark na verdade foi batizada com o nome de Lygia Pimentel Lins. O sobrenome Clark foi escolhido como um pseudônimo para sua figura pública.
Forte e atuante dentro do contexto cultural brasileiro, ela teve como marco em sua jornada o fato de abdicar do rótulo de artista. Em sua filosofia, ela preferia ser mencionada como uma “propositora”, o que aliás, soava bem considerando suas ideias.
O início de Lygia no mundo da arte se deu mais decididamente em 1947, quando ela já havia se casado e tinha três filhos. Na ocasião ela rumou ao Rio de Janeiro e lá passou a ter as primeiras aulas de pintura, estudando com Burle Marx, artista plástico.
Lygia Clark e sua jornada Internacional
Apesar de ter começado a criar raízes na arte já com idade por volta dos 27 anos, a artista não se privou de experimentar uma jornada internacional. Prova disso é que em 1950 ela partiu rumo a Paris, onde morou por dois anos. Nessa sua primeira estadia no velho continente ela aproveitou para estudar com grandes nomes da arte, como Isaac Dobrinsky, Arpad Szens e Fernand Léger. Ao voltar ao Brasil, passou a fazer parte do Grupo Frente, que tinha Ivan Serpa como líder.
Retorno ao Brasil
Buscando colocar em prática suas ideias voltadas à arte, Lygia Clark passou a trabalhar uma linha de pintura construtivista logo nos primeiros anos de volta ao país. Essa característica explorada por ela entre os anos de 1954 e 1957 foi pautada na utilização do preto e branco a partir de tintura industrial.
Buscando diferenciação na arte, ela também procurou mudar o sentido e natureza de suas obras. Isso foi feito através da colorização até mesmo da moldura, que por vezes passava a compor o próprio quadro. Esse tipo de trabalho foi chamado por ela de “Linha Orgânica”.
No último ano da década de 50 a artista se voltou para uma nova linguagem dentro do abstrato, assinando assim o Manifesto Neoconcreto. Ainda nesse período também foi nome presente no MAM-RJ, onde figurou na Primeira Exposição Nacional de Arte Neoconcreta. Ao seu lado estiveram outroos grandes talentos da arte, tais como Sérgio Camargo, Ferreira Gullar e Almícar de Castro, só para citar alguns.
Determinada a seguir carreira, a artista ainda passou a ensinar novos talentos, lecionando no Instituto Nacional dos Cegos em 1964. Antes disso, contudo, havia trabalhado quatro anos na composição daquela que talvez seja sua criação mais memorável: a série “Bicho”. Já em 1968 ela retoma a construção de obras icônicas, como “Nostalgia do Corpo” e “A Casa É o Corpo: Labirinto”.
A volta de Lygia Clark ao exterior
Do início até meados dos anos 70 Lygia Clark volta a morar na Europa, novamente em Paris. Nesse período ela compôs outra obra memorável, esta chamada “Baba Antropológica”. Ainda nessa época, também ensinou na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, lecionando no curso de Comunicação.
Um novo retorno
Ao retornar ao Brasil após nova estadia na Europa, Lygia Clark se pôs então a estudar no Rio de Janeiro. Dessa vez se debruçou sobre as muitas possibilidades terapêuticas da arte sensorial e objetivos correlatos.
Seguindo suas novas ideias e aplicação da arte em um novo contexto, a artista passou a trabalhar com consultas terapêuticas em caráter particular. Isso se estendeu de 1978 até 1985, período em que muitos de seus trabalhos chegavam à fugir da esfera da arte e se aproximar da psicanálise. Em 1988, ela acabou falecendo, precisamente no dia 25 de abril, no Rio de Janeiro.
Obras memoráveis de sua carreira
Conforme já mencionado anteriormente, ao longo de sua trajetória Lygia Clark contribuiu para a arte com diferentes obras entre pinturas e esculturas. Algumas, contudo, se tornaram destaque não apenas pela criação em si, mas pelas ideias que transmitia. A seguir alguns exemplos a partir de suas produções mais memoráveis.
Contra Relevo
Essa talvez tenha sido a obra na qual Lygia Clark de fato chega no auge de sua criatividade artística. Há quem diga inclusive, que nesse momento ela já passava a confundir a vida e a arte, especialmente em função da sua declaração como terapeuta e “não-artista”. O momento revela a importância da linha orgânica dentro de um contexto contemporâneo para amadurecimento do artista e suas ideias.
Os bichos
Já aqui em “Bicho”, a artista instiga a imaginação, trazendo a ideia de que a arte também pode estar nos olhos de quem vê. Uma analogia possível nesse contexto é a mera observação das nuvens, que muitas vezes podemos confundir com desenhos.
Máscara abismo
Já na fase de busca de experiências sensoriais e uso da arte com fins terapêuticos, Lygia Clark chegou a essa obra emblemática. Nesse caso a ideia foi reproduzir a experiência do seu órgão fora do corpo, mostrando como qualquer coisa pode se acoplar a ele.
Homenagens e curiosidades sobre Lygia Clark
Graças ao seu brilhantismo e ideias diferentes que contribuíram com todo um contexto cultural no Brasil e no mundo no último século, a artista já recebeu diferentes reconhecimentos. Não obstante, suas obras já foram adquiridas em leilões por valores significativos.
Uma das homenagens de destaque, por exemplo, foi o póstumo Doodle do Google em 2015, quando ela completaria 95 anos. Já em relação às vendas emblemáticas de suas obras, o destaque fica por conta de “Contra Relevo” e “Superfície Modulada nº4”, vendidas em 2013. Elas foram arrematadas por US$ 2,2 milhões (cerca de R$ 4,5 milhões à época) e R$ 5,3 milhões, respectivamente.