Nascido em 1948, Cildo Meireles é um artista conceitual, artista de instalação e escultor brasileiro.
Conhecido internacionalmente por suas instalações, muitas de suas obras expressam resistência à opressão política no Brasil. Esses trabalhos, geralmente grandes e densos, estimulam uma experiência fenomenológica por meio da interação do espectador.
Seu trabalho frequentemente explora escala, variando de um pequeno cubo tão pequeno quanto um grão de feijão, até instalações em larga escala que preenchem salas inteiras. Outro elemento-chave de seu trabalho é o uso da participação, que muitas vezes é central na ideia por trás da peça. Em resumo, o Trabalho de Cildo Meireles sempre procura algum tipo de comunhão com essa entidade ampla indefinida chamada público.
O que é arte conceitual?
Este termo refere-se a uma área da arte em que o artista dá uma importância maior à exploração de uma ideia ou conceito do que a própria obra de arte. Portanto, frequentemente, a peça é secundária ao processo ou desempenho que a cria. Para Meireles, a existência da arte conceitual foi particularmente importante devido à pobreza e à situação precária no Brasil.
Para ele a arte conceitual afirma a capacidade de qualquer um de fazer arte, mesmo quando privado de condições econômicas ou técnicas. Não se trata, porém, de estetizar a pobreza, mas de dar voz a uma multidão de indivíduos.
Início da carreira
Meireles se mudou com sua família para Goiânia antes dos 4 anos de idade. De lá dirigiu-se com a família em direção a capital modernista de Brasília quando havia completado 10 anos de idade. Morou na cidade durante nove anos, e acompanhou de perto o surgimento da nova cidade projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que surgia ao seu redor.
Meireles esperava estudar cinema, mas esse sonho acabou por desaparecer, e seu envolvimento nas artes o fez tomar um rumo diferente. Ele tinha apenas 19 anos quando participou de sua primeira exposição de arte, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.
Arte crítica
Durante um período de regime militar e repressão política no Brasil, Meireles respondeu produzindo suas duas obras chamadas Inserções em circuitos ideológicos (1970–75). Para esse projeto, ele carimbou mensagens anônimas em inglês e português em cruzeiros brasileiros e garrafas de Coca-Cola e as colocou em circulação.
Suas notas diziam “Eleições Diretas”, “Yankees Go Home” e “Quem matou Herzog?”. O último dos quais referenciou a morte por tortura (oficialmente relatado como suicídio) do jornalista de televisão Wladimir Herzog, um oponente vocal da ditadura militar. Embora esses objetos tenham sido coletados posteriormente em museus, Meireles, que foi influenciado pelo crítico brasileiro Ferreira Gullar, insistiu que os objetos não eram a arte.
Meireles viu as garrafas de cola como uma oportunidade para subverter o capitalismo, e em particular a influência das marcas americanas que entraram no Brasil naquela época. A declaração que ele concedeu na época reforçou ainda mais o estilo de arte e qual era seu direcionamento.
Lembre-se de que o trabalho não é o que vemos em uma exposição de museu. Não são as notas bancárias ou as garrafas de Coca-Cola. Esses objetos são apenas relíquias. O trabalho em si não tem materialidade. E é efêmero. Só existe quando alguém está interagindo com ele. A esse respeito, está muito mais ligado ao conceito de anti objeto ou de não-objeto.
Eureka: aparência vs realidade
Também nessa época, Meireles trabalhou no desenvolvimento de sua primeira instalação, chamada Eureka / Blindhotland (1970-75), que, por conta própria, segundo suas próprias palavras “lidava com a diferença entre aparência e realidade”.
A obra consistia em 200 bolas pretas com o mesmo volume, mas com massa diferente. Os participantes da exposição foram convidados a interagir com as bolas e a meditar sobre a enganação da aparência.
Outra das instalações famosas de Cildo Meireles são, Missão / missões (como construir catedrais) de 1987, que era composta por 600.000 moedas, uma pilha de 800 bolachas de comunhão e 2.000 ossos de gado suspensos.
Segundo o artista, tratava-se de europeus, particularmente jesuítas, nas Américas, simbolizando “poder material e poder espiritual, e uma espécie de inevitável e historicamente repetida consequência dessa conjunção, que foi uma tragédia”.
O que dizem os críticos?
Em 2008, Meireles venceu o Prêmio Ordway, um presente sem restrições de US $ 100.000. Administrado pelo New Museum e pelo Creative Link for the Arts, na cidade de Nova Iorque, e nomeado pela naturalista e filantropa Katherine Ordway, o prêmio foi concedido na bienal e simultaneamente a dois indivíduos no meio da carreira, um artista e um curador.
Grande parte dos trabalhos de Meireles apresentam uma fisicalidade desonesta, assim como manifestam uma elegância e economia formal.
Palavras do artista
Para Meireles, o trabalho político é feito a partir do momento em que nos obrigamos a reagir a determinado evento. Desse modo, de alguma forma, você se torna político quando não tem a chance de ser poético. Ele entende que os seres humanos, nesse caso, preferem optar pelo posicionamento poético.
De fato, de acordo com o próprio Meireles, todos os seres humanos gostariam de ter paz, aproveitar a vida, ter boa comida, ter uma relação sadia, aproveitar a cultura e o lazer. Entretanto, para ele, talvez isso jamais seja possível.
Um dos pensamentos mais presentes em suas obras são a necessidade que o autor busca na criação de uma relação entre as suas obras de arte e o espectador. Meireles entende que a arte até pode existir se não houver um visualizador, mas que ela acabaria se tornando pouco útil.
Desse modo, um dos mais relevantes inspiradores da arte conceitual brasileira, o artista elaborou diversas obras que possuíam uma visão politica significativa, com uma estética que seduz e intriga filosoficamente o espectador. Isso durante suas 4 décadas de trabalhos apresentados. Suas obras destilam ideias complexas em objetos ou ambientes únicos.
As obras de Cildo Meireles geralmente começam em um objeto comum ou em uma memória de infância, que se transmuta em uma especulação perceptiva, filosófica e cosmológica. A realidade encontrada ali é frequentemente dura, mas marcada pela resiliência e inventividade humana.