Muiraquitãs são pequenos amuletos feitos de pedra por índios amazônicos com intuito de protege-los contra doenças e infertilidade. Feitos de pedras verdes, como jade, eles são considerados sagrados e sua história é cercada de lendas.
Estes artefatos são representações de animais como sapos, peixes, tartarugas e cobras, considerados pequenas obras de arte. Os índios acreditavam que estes símbolos traziam sorte, felicidade e força.
Existem algumas versões sobre a origem e os significados dos Muiraquitãs. Diversas tribos amazônicas confeccionam estes apetrechos protetores e também são diversas as lendas que explicam a história e as funções do Muiraquitã.
Definição do nome Muiraquitã
A etimologia da palavra Muiraquitã também traz algumas divergências entre os estudiosos do assunto. Para uma corrente de pesquisadores, a palavra seria originada do tupi e significaria expressões como miçangas e sapo (ou rã).
Já entre outros autores, prevalece o entendimento que a palavra significaria “nó das árvores” ou “nó das madeiras” (tipo de verruga ou algo arredondado que se forma sobre a casca).
Estas divergências se dão, principalmente, em razão das várias línguas indígenas nas quais há uma palavra parecida para designar este tipo de amuleto. Entre elas, existem várias expressões com sons parecidos como ybyrakytã, mirakitã, baraquitãs, buraquitãs e mueraquitan, entre outras.
Origens das lendas sobre o amuleto
Os Muiraquitãs e suas histórias estão presentes em diversas aldeias amazônicas, especialmente na região que compreende as proximidades da cidade de Óbidos. Nesta localidade, nos perímetros entre os rios Tapajós e Nhamundá foram encontrados inúmeros amuletos esculpidos em pedras verdes.
Diferentes expedições nacionais e compostas por estrangeiros fizeram com que estes pequenos exemplos de arte indígena se tornassem conhecidos mundialmente. As figuras, ricas em detalhes, de animais ou figuras geométricas, chamam atenção pelo trabalho elaborado esculpido nas pedras.
O material utilizado, jade, nefrita, feldspato, porfiro ou jadeíte, também desperta curiosidades e teorias diversas pois são pedras difíceis de serem encontradas na região. Dentre as teorias mais arrojadas, constam algumas que acreditam que tanto as pedras quanto as técnicas e significados teriam sido trazidos por povos de outros continentes.
A lenda das guerreiras Icamiabas
Uma das lendas mais conhecidas sobre as origens dos Muiraquitãs diz que eles serviam de presentes dados pelas guerreiras Icamiabas aos homens da tribo Guacaris. Elas eram conhecidas por serem fortes, corajosas e guerreiras muito valentes.
O nome da tribo, Icamiabas, significa “mulher sem marido”, explicando a função do amuleto-presente. A tribo formada apenas por mulheres realizava todas as atividades cotidianas sem a necessidade de homens, porém, para que o povo continuasse existindo, elas realizavam um ritual que visava a procriação.
Diz a lenda que anualmente os guerreiros Guacaris visitariam as mulheres Icamiabas. Durante estes encontros eram realizados festejos em oferenda à lua e em homenagem à divindade Iaci. Durante as festas, homens Guacaris e mulheres Icamiabas teriam relações sexuais.
Ainda segundo a história, as mulheres mergulhariam à meia noite no rio Jaciuaruá e, quando voltassem, trariam consigo uma espécie de barro mole e verde que utilizariam para esculpir os amuletos, em forma de animais, que seriam oferecidos aos guerreiros visitantes.
E, a partir de então, o presente seria utilizado pelos guerreiros como símbolo de força, proteção, alegria e sorte. Segundo esta lenda, a tribo de guerreiras mantinha-se sem homens pois apenas as crianças meninas eram poupadas e, os meninos, sacrificados.
Outras lendas sobre os Muiraquitãs
Diversos povos da região amazônica cultivaram histórias sobre os significados e origens dos Muiraquitãs. Índios como os Konduri e os Tapajós usaram estas pequenas pedras verdes para se protegerem, atraírem prosperidade e demonstrarem poder.
Afastar doenças, garantir um futuro feliz e estimular a fertilidade são outras funções que estes amuletos recebem em outras lendas locais. Algumas destas crenças sumiram com o fim de alguns povos da floresta, porém, várias outras seguem vivas até hoje.
Enquanto em algumas versões o Muiraquitãs era um presente dado aos homens para protege-los nas guerras e caçadas, em outras histórias eles eram dados às índias para garantirem a gestação de bons filhos.
Na crença dos índios Uaupés, na região onde eles viviam existia um lago no qual morava uma senhora que seria a mãe do Muiraquitã. Um certo dia, ela teria entrado no lago e se transformado em uma cobra, porém, um índio teria matado ela. Em seguida, uma forte inundação teria matado todos da tribo, tendo restado apenas o símbolo da velha senhora, o Muiraquitã.
O que se sabe sobre estes amuletos é uma concha de retalhos feita de registros históricos, de mais de 500 anos, histórias transmitidas entre os índios e pesquisas realizadas por estudiosos.
O fato é que durante um período grande da história, os Muiraquitãs podiam serem vistos nos pescoços índios de diferentes povos. A pedra firme e de forte cor esverdeada despertava o interesse daqueles que se sentiam fortes e protegidos com estes amuletos.
Detalhadamente esculpidos e polidos com afinco, os Muiraquitãs conquistaram também os europeus que levaram muitos exemplares para adornar museus, coleções particulares e pescoços do outro lado do mundo.
Os amuletos feitos em pedra verde
Os Muiraquitãs, também conhecidos como pedras Amazonas, tornaram-se pedras famosas por causa da colonização realizada na região entre os séculos XVII e XVIII. A beleza das pedras e a fama de cura logo fizeram que os amuletos fossem exportados.
As figuras exóticas e bem talhadas também chamavam a atenção pela tonalidade forte e o brilho do polimento. Porém, ainda não foi possível identificar quando os primeiros destes artefatos de arte surgiram na história destes povos antigos.
Na Europa, os Muiraquitãs originais inspiraram cópias não autorizadas e novas versões de outros tipos de objetos que utilizavam o estilo, traços e temas indígenas. Das pequenas esculturas aos mais variados objetos, a fama de talismã fez os Muiraquitãs se tornarem muito famosos.
Outro fator que fez estes amuletos se tornarem valiosos era a crença de que eles teriam o poder de curar diversas doenças como epilepsia, problemas nos rins, dentre outras.
A versão mais comum e conhecida é a representação de sapos e rãs. Porém, os índios também produziam esculturas inspiradas em jacarés, onças, peixes, tartarugas e outros animais comuns na região, além de outras representações figurativas.
A beleza, simbolismo e as lendas sobre os Muiraquitãs atravessaram os séculos e, ainda hoje, atraem o fascínio e a crença de índios e “homens brancos”.