Cruz e Sousa

Cruz e Sousa e sua contribuição para a poesia brasileira

João da Cruz e Sousa foi precursor de um importante movimento literário que, no século XIX, impactou profundamente a poesia brasileira: o simbolismo. Fundada na França, pelo poeta Charles Baudelaire, a poesia simbolista destaca-se pelo uso da musicalidade e da subjetividade.

Considerado um dos fundadores da poesia simbolista no Brasil, Cruz e Sousa contribuiu para a poesia nacional tratando de temas considerados sombrios, como a morte e o misticismo, de uma maneira nova para época e que influenciou muitos outros poetas.

Sua obra contém elementos que retratam o mundo de sua época, mas que, principalmente, se voltam para a percepção dos temas que afetam a individualidade e suas maneiras de se encarar os fatos da vida.

Biografia de Cruz e Sousa

Nascido em 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis (SC), João da Cruz e Sousa era filho de escravos alforriados. Por ter recebido educação por parte do ex-senhor marechal Guilherme Xavier de Sousa, ele passou a adotar o sobrenome Sousa.

Dentre os aprendizados que contribuíram para a formação do jovem poeta estão o latim, grego e francês. Ele também estudou matemática e ciências naturais com o naturalista Fritz Muller.

Cruz e Sousa passou a dirigir o jornal Tribuna Popular no ano de 1881. Dois anos depois ele tentou o cargo de promotor na cidade de Laguna, porém, não foi aceito em razão de sua cor.

Seu primeiro livro, Tropos e Fantasia, foi publicado em 1885. Em 1890, ele foi morar no Rio de Janeiro onde passou a trabalhar como arquivista e contribuiu para vários jornais.

Duas obras, consideradas fundamentais para o simbolismo no Brasil, “Missal” e “Broquéis”, são lançadas em 1893. Neste mesmo ano ele se casa com Gavita Gonçalves, com que tem quatro filhos, porém, todos falecem precocemente, vítimas de tuberculose. Isto leva sua esposa a desenvolver graves transtornos mentais.

Esta tragédia familiar se tornará presente dentre os temas dos poemas de Cruz e Sousa. Esta mesma doença levará o poeta à morte, em 1898, aos 36 anos, em Curral Novo, que à época fazia parte da cidade de Barbacena. Em 1948, a localidade se emancipou e passou a ser chamada de Antônio Carlos em homenagem ao poeta e sua arte.

A Academia Catarinense de Letras tornou Cruz e Sousa um de seus patronos, representado pela cadeira de número 15.

Cruz e Sousa

A poesia de Cruz e Sousa

Inicialmente, a poesia de Cruz e Sousa é fortemente influenciada pelo movimento Parnasiano, porém, na medida em que passa a se interessar mais pelo uso das possibilidades sonoras das palavras, o poeta se aproxima do simbolismo.

Movimento que se originou na França, em 1857, por meio da publicação da obra “As Flores do Mal” de Charles Baudelaire, o simbolismo explora as várias figuras sonoras possíveis, como a aliteração e a onomatopeia. A temática desta poesia é marcada por assuntos como a espiritualidade, a morte, o tédio e o amor.

Cruz e Sousa também tratou de temas como a sensualidade, religião, escravidão e sofrimento. Além da busca pela musicalidade nos versos, ele também se utilizou de recursos como metáforas, subjetivismo, individualismo e sinestesia.

A alternação entre o desespero e a busca pela paz está presente em vários momentos da obra do autor. O pessimismo e o misticismo são outras características marcantes em seus versos.

A questão espiritual é percebida em sua obra em uma confluência entre as ideias vindas do simbolismo francês e a idiossincrasia religiosa presente em nosso país.

Outra questão que surge em sua obra é quanto ao sofrimento que é imposto aos negros. Tanto em sua obra literária quanto em sua atuação nos jornais, Cruz e Sousa trata das condições degradantes às quais são submetidas as pessoas de pele escura e usa sua arte como forma de protesto.

As contribuições de Cruz e Sousa para a poesia brasileira se estendem por diversas áreas que vão do estilo inovador para época até a maneira como temas sombrios eram tratados. O movimento que ele ajudou a difundir valorizou a importância do subjetivismo e das emoções dando mais vida à poesia.

Versos de Cruz e Sousa

O uso da sinestesia, recurso sensorial que associa sentidos para criar uma sensação, está presente em vários poemas de Cruz e Sousa e é um dos principais destaques de sua obra.

No poema “Cristais” temos versos que demonstram esta estratégia de forma eficiente:

“Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.”

Já o pessimismo, a melancolia e a tristeza surgem frequentemente em sua obra em versos que demonstram a sensibilidade e a técnica do poeta, como no poema “A Morte”:

Cruz e Sousa

“Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem…
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.”

A questão do racismo também está presente nos versos do poeta. Em poemas como “Da Senzala”, ele demonstra seu horror quanto ao sofrimento aplicado aos escravos:

“De dentro da senzala escura e lamacenta
Aonde o infeliz
De lágrimas em fel, de ódio se alimenta

De dentro da senzala
Aonde o crime é rei, e a dor – crânios abala
Em ímpeto ferino;
Não pode sair, não,
Um homem de trabalho, um senso, uma razão… e sim um assassino!”

Conseguimos perceber claramente outra contribuição do poeta para o debate e a conscientização quanto à situação dos negros no país no poema “Livre”:

“Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.”

Principais obras de Cruz e Sousa

A obra de Cruz e Sousa é composta publicações em vida e outras póstumas. Dentre os principais livros de poesia e prosa poética estão:

  • Missal (1893);
  • Broquéis (1893);
  • Tropos e fantasias (1885);
  • Evocações (1898);
  • Faróis (1900);
  • Últimos Sonetos (1905).

Ainda hoje, a poesia de Cruz e Sousa é revisitada por novas edições, montagens teatrais e outras homenagens que demonstram a importância do autor para a poesia e a arte simbolista brasileira.

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